Colapso
Queimadas na Mata Atlântica jogam carvão vegetal no oceano
do UOL Notícias
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Prática de corte e queima em área preservada de mata Atlântica, em São Paulo
O desmatamento por queimadas na mata Atlântica deixou uma enorme quantidade de carvão vegetal no solo. Segundo pesquisa de Carlos Eduardo de Rezende, biogeoquímico da UEFN (Universidade Estadual do Norte Fluminense), a prática criminosa não destruiu apenas a área verde do Brasil, hoje reduzida a menos de 8% do terreno original, como também pode devastar o resto do ecossistema por milênios.
O estudo, feito em parceria com o centro de estudos alemão Max Planck, descobriu que mais de 2,7 toneladas de carvão vegetal são despejadas no oceano Atlântico todo ano. (…) Como os sedimentos são levados pela chuva, eles chegam até os rios e, depois, desembocam no oceano. Este processo de limpeza do solo, feito durante a época das tempestades, pode demorar entre 630 e 2.200 anos para terminar.
Por isso, mesmo após quase 40 anos da proibição das queimadas, os vestígios de carvão vegetal ainda são despejados no mar. Sem apontar as consequências reais, o material demonstra que a queimada vai além do ato isolado na área e gera uma reação em cadeia e prejudicial ao restante do ambiente.
Informações e reflexões sobre fracassos ambientais e sociais de 2008 a junho de 2012
Reflexões sobre o livro “Colapso – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso”
No inverno brasileiro de 2007, quando eu comecei a ler o último livro do geógrafo americano Jared Diamond – Colapso – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso – enquanto eu viajava de carro observando o meio ambiente do litoral brasileiro do sul e do sudeste, eu prometi, através deste boletim virtual, que um dia escreveria uma síntese de Colapso.
No verão europeu de 2008, enquanto eu viajava de trem observando o meio ambiente espanhol, francês e suíço, eu li, na revista francesa Science et Vie (Ciência e Vida) de junho, o artigo ‘Les civilisations à l’épreuve de la durabilité’ (As civilizações sob o teste da durabilidade, em tradução livre) com uma analise do livro Effondrement – Comment les sociétés décident de leur disparition ou de leur survie (Colapso – como as sociedades decidem sobre sua desaparição ou sua sobrevivência, tambem tradução livre minha).
A revista francesa dividiu o seu artigo ecológico de capa (“Construire un monde durable”) em 3 blocos: saber; agir e querer. O bloco Saber, da página 22 à 65, consta de 3 artigos: ‘Nossas necessidades esgotam muito rápido o planeta’; ‘E portanto, uma Terra cheia de recursos’ e; ‘O teste de durabilidade das civilizações’.
O artigo “O teste de durabilidade das civilizações” é uma análise das contribuições do livro Colapso, de Jared Diamond, para o Planeta e para suas espécies, particularmente para Homo sapiens sapiens, nós.
O autor do artigo, Yves Sciama, inicia sua análise do livro Colapso com uma pergunta explícita e uma resposta implícita. Diz ele: “Face à crise ecológica, o estudo do passado pode nos ajudar a encontrar soluções? A idéia parece absurda de tanto que os problemas da sociedade atual são aparentemente novos: aquecimento climático, esgotamento dos combustíveis, multiplicação dos tóxicos… Mas só a forma é nova.
No fundo, trata-se simplesmente da tomada de consciência brutal da rarefação de nossos recursos sob o efeito de nossos consumos. Um dilema que numerosas civilizações conheceram antes da nossa e nos quais um certo número pereceu”.
Após uma breve apresentação de Diamond e de sua obra, sob o subtítulo de ‘Suicídios Ecológicos’, Yves Sciama prossegue sua análise do livro Colapso. Diz ele: “Além disso, as civilizações desaparecem geralmente sob o efeito de uma combinação de causas: mesmo quando as destruições ecológicas têm um papel importante, pode igualmente haver conflitos sociais, dificuldades com sociedades vizinhas e mudanças climáticas”.
O autor, antes de fazer pequenas referências a algumas das sociedades estudadas por Jared Diamond que desapareceram – os habitantes da ilha de Páscoa no Pacífico, os índios Anasazis na atual América do Norte, os Maias nas atuais Américas Central e do Norte e os Vikings da Groenlândia – e algumas das sociedades que sobreviveram – os habitantes de Tikopia e os habitantes do Japão, duas ilhas do Pacífico -, finaliza seu artigo com uma síntese do que ele percebeu como a grande contribuição desta obra de Jared Diamond. Diz ele: “Mas o que a história mostra, e isso é sem dúvida o mais importante, é que a liberdade humana existe: não há determinismo ambiental. Nos ambientes em que certos grupos humanos desapareceram, outros sobreviveram, porque fizeram as melhores escolhas.
Na Groenlândia os Vikings pereceram há cinco séculos enquanto os Inuís estão lá ainda hoje. E sobre a minúscula ilha de Tikopia, nos confins do Pacífico, a colônia humana de 1 200 habitantes escapou da sorte trágica dos habitantes da ilha de Páscoa. É, então, um alerta e uma mensagem de esperança que nos endereçam, do fundo dos tempos, as gerações humanas que nos precederam”.
Há cerca de cento e vinte mil anos, quando nos tornamos Homo sapiens e, portanto, aperfeiçoamos nosso domínio e uso do fogo de ferramentas e de armas. Nos últimos 10 mil anos, nós nos organizamos em sociedades e civilizações. crenças e religiões.
A análise deste nosso momento, uma “modernidade neo-primitiva”, mostra que a humanidade está sempre fazendo escolhas sociais, culturais e ecológicas, construindo o seu futuro como espécie, e contribuindo para a determinação do futuro do planeta Terra e de suas variadas formas de vida.
Hoje, após vinte e cinco séculos de ciência e de filosofia, no início de uma nova era científica e tecnológica, graças a pensadores e pesquisadores como Jared Diamond nós sabemos o que outras civilizações escolheram e os resultados que elas obtiveram.
Graças a estes e outros pensadores e pesquisadores, nós sabemos também que a humanidade está no momento exato de adequar a sua escolha do modo de relação com o Planeta, a fim de contribuir mais construtivamente com a vida da Terra e evitar um possível colapso civilizatório, mais um colapso, talvez o último colapso da humanidade.
Como espécie hegemônica do planeta, temos que reconhecer e assumir que, neste momento, ao contrário do que dizem os religiosos, o futuro a nós pertence. Por Gaia e por nós, temos que fazer o que convém fazer. Como diria Freud, temos que enfraquecer Tânatos (destruição) e fortalecer Éros (construção) da humanidade.
Rui Martins Iwersen
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