Colapso
Os custos da degradação dos solos e das mudanças climáticas
(…) Salvar nossas terras e lutar contra as mudanças climáticas representa uma revolução, mas ela está ao nosso alcance. Segundo os especialistas na questão, é realizável. Trata-se hoje de vontade política e financeira.
O relatório [solos e clima do Giec – Grupo de especialistas intergovernamental sobre a evolução do clima] sublinha, aliás, que o custo da não ação – os custos da degradação dos solos e das mudanças climáticas – ultrapassa de uma a duas vezes o custo das medidas que nós podemos colocar em prática de modo a remediar a situação.
Segundo certos estudos, as medidas podem mesmo ser fontes de lucro: 1 dólar investido hoje na restauração de zonas áridas pode trazer 3 a 6 dólares sob a forma de serviços ecossistêmicos (ou serviços ecológicos – os benefícios que os humanos retiram dos ecossistemas) amanhã. O mundo financeiro e econômico deve tomar consciência disto.
Quanto mais esperamos e tanto mais a degradação das terras se acentua, mais diminuímos a capacidade de nossas terras de absorver CO2. Nós nos aproximamos do point de non-retour. (…)
La Recherche, nº 553, novembre 2019; Dossier spécial: Climat – faire face à l’urgence; página 35; tradução livre de Rui Iwersen; Foto: G1
Rui Iwersen, do navio MSC Seaview, navegando entre Tenerife e Salvador.
Descontrole humano das emissões de gazes de efeito estufa
(…) os ecossistemas terrestres são, ao mesmo tempo, uma fonte e um poço de gaz de efeito estufa.
respiração das plantas e dos solos libera naturalmente dióxido de carbono (CO2). Mas, por ocasião da fotossíntese, as plantas absorvem CO2 da atmosfera, que é estocada no seu organismo, depois nos solos. No total, o conjunto dos ecossistemas terrestres (incluindo os solos e a vegetação) absorvem 29 % de nossas emissões de CO2. Eles limitam assim o crescimento deste gaz de efeito estufa na atmosfera. A biosfera nos fornece, portanto, um importante serviço.
É preciso manter este poço de carbono, e mesmo amplificá-lo. Mas, não é o que nós estamos fazendo. O desmatamento e a destruição das terras úmidas e outras terras representam sozinhas 10 a 15 % das emissões de CO2 de origem antrópica.
Mais amplamente, nossa gestão das terras, incluindo nossas atividades agrícolas e florestais, contribui com 22 % para as emissões de gaz de efeito estufa, que incluem o CO2 mas também o metano (CH4) ou o protóxido de azoto (N2O).
O poço de carbono terrestre está em perigo. (…)
La Recherche, nº 553, novembre 2019; Dossier spécial: Climat – faire face à l’urgence; página 34; tradução livre de Rui Iwersen; Foto: WWF
Rui Iwersen, de Tenerife.
O Homem e a natureza nº 37
Salvar nossas terras, uma revolução ao nosso alcance
A leitura do último relatório ‘Solos e Clima’ do Giec [Grupo de especialistas intergovernamental sobre a evolução do clima] nos trás uma constatação alarmante: incêndios de florestas, erosão, mudanças dos ecossistemas terrestres… estão ligados à exploração dos solos e agravados pelo aquecimento do clima. Uma valorização imediata de nossos modos de funcionamento, especialmente agrícolas, é indispensável.
No dia 8 de agosto, o Grupo de Especialistas Intergovernamental sobre a Evolução do Clima (Giec) publicou seu relatório ‘Solos e Clima’. Este relatório aborda sujeitos particularmente sensíveis, porque ele diz respeito ao que se passa sobre nossos locais de existência. Ele se concentra sobre as terras onde nós vivemos, onde produzimos nossa alimentação, onde nós respiramos e onde nós comemos. Ele questiona a maneira como nós ocupamos, gerenciamos, maltratamos nossa Terra. (…)
As superfícies terrestres sofrem uma dupla pressão. Exploradas ou ocupadas pelos humanos, os solos estão degradados, perderam uma parte de sua fertilidade, de sua capacidade de estocar carbono e da biodiversidade que as habitava. A isto se junta o efeito do clima, porque os continentes se aquecem quase duas vezes mais que o conjunto do planeta. (…)
Fazem trinta anos que o Giec trabalha com a questão das mudanças climáticas e ninguém colocou em dúvida nem a realidade do fenômeno, nem a necessidade de agir rapidamente. (…)
La Recherche, nº 553, novembre 2019; Dossier spécial: Climat – faire face à l’urgence; entrevista com Nathalie de Noblet-Ducodré, página 32; tradução livre de Rui Iwersen; Foto: Google
Rui Iwersen, de Barcelona
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