Antropoceno
A construção humana do Antropoceno
Mesmo se deixarmos de lado as perspectivas futuras e só olharmos para trás, para os últimos 70 mil anos, é evidente que o Antropoceno alterou o mundo de maneira única. Asteroides, placas tectônicas e mudanças climáticas podem ter impactado organismos no mundo todo, porém sua influência difere de uma região para a outra. O planeta nunca se constituiu num único ecossistema; era, sim, uma coleção de muitos ecossistemas frouxamente conectados. (…)
Em contrapartida, o Sapiens rompeu as barreiras que dividiam o globo em zonas ecologicamente independentes. No Antropoceno, o planeta tornou-se pela primeira vez uma unidade ecológica. (…)
Consequentemente, a ecologia dos australianos, por exemplo, não pode mais ser compreendida sem levar em conta os mamíferos europeus e os microrganismos americanos que inundam suas costas e seus desertos. Ovelhas, milho, ratos e vírus da gripe que os humanos levaram para a Austrália durante os últimos trezentos anos são hoje muito mais importantes para sua ecologia do que os cangurus e coalas nativos.
Yuval Noah Harari, Homo deus – uma breve história do amanhã, Companhia das Letras, São Paulo, 2018; 12ª reimpressão, 2018; Parte I – 2. O Antropoceno, páginas 81 e 82
Rui Iwersen
A primeira extinção em massa provocada pelo Homo sapiens
O momento em que o primeiro caçador-coletor pôs os pés no litoral australiano [há 45 mil anos] foi o momento em que o Homo sapiens subiu ao topo da cadeia alimentar num território específico e a partir daí se tornou a espécie mais mortífera do planeta Terra. (…)
Eles haviam demonstrado sucesso notável ao se adaptar em vários habitats, mas o fizeram sem mudar drasticamente esses habitats. Os povoadores da Austrália, ou, mais precisamente, seus conquistadores, não simplesmente se adaptaram; eles transformaram o ecossistema australiano de tal forma que já não seria possível reconhecê-lo. (…)
À medida que entraram no continente encontraram um universo estranho de criaturas desconhecidas que incluía um canguru de 200 quilos e 2 metros de altura e um leão-marsupial, grande como um tigre moderno, que foi o maior predador do continente. (…)
Os mamíferos marsupiais eram praticamente desconhecidos na África e na Ásia, mas na Austrália reinavam absolutos. Em alguns milhares de anos, virtualmente todos esses gigantes desapareceram. Das 24 espécies animais australianas pesando 50 quilos ou mais, 23 foram extintas.
Yuval Noah Harari, Sapiens – uma breve história da humanidade, 32ª edição, Porto Alegre, L&PM, 2018, páginas 74 e 75
Rui Iwersen
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