Antropoceno
Soluções preconizadas pelo Giec para a degradação ambiental
Quatro grandes categorias de soluções são preconizadas. A primeira engloba as estratégias de evitamento. Trata-se parar de desmatar e de destruir zonas úmidas e outras. É preciso também limitar as perdas agrícolas e o desperdício alimentar que se elevam a mais de 25% da produção no mundo. (…)
A segunda categoria de soluções diz respeito à melhora da gestão dos sistemas agrícolas, dos sistemas pastoris, das florestas. Certas práticas emitem menos gás de efeito estufa que outras e estocam mais CO2. (…) Nós as agrupamos sob os termos de agroecologia, de agroflorestação, etc. Trata-se de levar mais em conta os ecossistemas no seu conjunto, e de misturar, por exemplo, culturas ou pastoreio com plantas arbustivas perenes. (…)
A terceira categoria agrupa os sistemas alerta. Temos sistemas de alerta precoce, que permitem reagir rápido quando um incêndio inicia, que uma inundação se anuncia ou quando uma insto predador penetra numa região e ameaça arruinar as colheitas. Mas Também sistemas de alerta a médio prazo quando terras mostram sinais de degradação extrema ou que espécies são ameaçadas de extinção. (…)
Enfim, a quarta categoria diz respeito aos nossos hábitos alimentares. Os regimes alimentares que incluem uma forte proporção de cereais, de nozes, de legumes e de frutas da estação tem geralmente uma pegada de carbono 10 a 100 vezes menor que o regime da carne. Mais da metade das emissões de metano provém dos ruminantes (bovinos, ovelhas e cabras) e dos arrozais. (…)
La Recherche, nº 553, novembre 2019; Dossier spécial: Climat – faire face à l’urgence; entrevista com Nathalie de Noblet-Ducoudré, páginas 34 e 35; tradução livre de Rui Iwersen; Foto: Bayer Jovens
Rui Iwersen, Oceano Atlântico, aproximando de Salvador.
Os custos da degradação dos solos e das mudanças climáticas
(…) Salvar nossas terras e lutar contra as mudanças climáticas representa uma revolução, mas ela está ao nosso alcance. Segundo os especialistas na questão, é realizável. Trata-se hoje de vontade política e financeira.
O relatório [solos e clima do Giec – Grupo de especialistas intergovernamental sobre a evolução do clima] sublinha, aliás, que o custo da não ação – os custos da degradação dos solos e das mudanças climáticas – ultrapassa de uma a duas vezes o custo das medidas que nós podemos colocar em prática de modo a remediar a situação.
Segundo certos estudos, as medidas podem mesmo ser fontes de lucro: 1 dólar investido hoje na restauração de zonas áridas pode trazer 3 a 6 dólares sob a forma de serviços ecossistêmicos (ou serviços ecológicos – os benefícios que os humanos retiram dos ecossistemas) amanhã. O mundo financeiro e econômico deve tomar consciência disto.
Quanto mais esperamos e tanto mais a degradação das terras se acentua, mais diminuímos a capacidade de nossas terras de absorver CO2. Nós nos aproximamos do point de non-retour. (…)
La Recherche, nº 553, novembre 2019; Dossier spécial: Climat – faire face à l’urgence; página 35; tradução livre de Rui Iwersen; Foto: G1
Rui Iwersen, do navio MSC Seaview, navegando entre Tenerife e Salvador.
Descontrole humano das emissões de gazes de efeito estufa
(…) os ecossistemas terrestres são, ao mesmo tempo, uma fonte e um poço de gaz de efeito estufa.
respiração das plantas e dos solos libera naturalmente dióxido de carbono (CO2). Mas, por ocasião da fotossíntese, as plantas absorvem CO2 da atmosfera, que é estocada no seu organismo, depois nos solos. No total, o conjunto dos ecossistemas terrestres (incluindo os solos e a vegetação) absorvem 29 % de nossas emissões de CO2. Eles limitam assim o crescimento deste gaz de efeito estufa na atmosfera. A biosfera nos fornece, portanto, um importante serviço.
É preciso manter este poço de carbono, e mesmo amplificá-lo. Mas, não é o que nós estamos fazendo. O desmatamento e a destruição das terras úmidas e outras terras representam sozinhas 10 a 15 % das emissões de CO2 de origem antrópica.
Mais amplamente, nossa gestão das terras, incluindo nossas atividades agrícolas e florestais, contribui com 22 % para as emissões de gaz de efeito estufa, que incluem o CO2 mas também o metano (CH4) ou o protóxido de azoto (N2O).
O poço de carbono terrestre está em perigo. (…)
La Recherche, nº 553, novembre 2019; Dossier spécial: Climat – faire face à l’urgence; página 34; tradução livre de Rui Iwersen; Foto: WWF
Rui Iwersen, de Tenerife.
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