Saúde mental
Freud Explica nº 19
A Guerra nº 2
Quando os seres humanos são incitados à guerra, entre eles está certamente o desejo de agressão e destruição
A pedido de Einstein e da Liga das Nações (a atual ONU), Freud explica a guerra, especialmente as guerras religiosas, hoje frequentes e violentas, mas que Einstein supunha serem de “tempos precedentes”, como vemos no diálogo abaixo.
Prezado professor Freud
Para concluir: Até aqui somente falei das guerras entre nações, aquelas que se conhecem como conflitos internacionais. Estou, porém, bem consciente de que o instinto agressivo opera sob outras formas e em outras circunstâncias. (Penso nas guerras civis, por exemplo, devidas à intolerância religiosa, em tempos precedentes, hoje em dia, contudo, devidas a fatores sociais; ademais, também nas perseguições a minorias raciais.) (…)
Sei que nos escritos do senhor podemos encontrar respostas, explícitas ou implícitas, a todos os aspectos desse problema urgente e absorvente. Mas seria da maior importância para nós todos que o senhor apresentasse o problema da paz mundial sob o enfoque das suas mais recentes descobertas, pois uma tal apresentação bem poderia demarcar o caminho para novos e frutíferos métodos de ação. (…)
A. Einstein.
Prezado Professor Einstein
De acordo com nossa hipótese, os instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e a unir – que denominamos ‘eróticos’, exatamente no mesmo sentido que Platão usa a palavra ‘Eros’ (…) -; e aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo ou destrutivo. (…)
Muito raramente uma ação é obra de um impulso instintual único (que deve estar composto de Eros e destrutividade). A fim de tornar possível uma ação, há que haver, via de regra, uma combinação desses motivos compostos. (…) De forma que, quando os seres humanos são incitados à guerra, podem ter toda uma gama de motivos para se deixarem levar (…) Entre eles está certamente o desejo de agressão e destruição: as incontáveis crueldades que encontramos na história e em nossa vida de todos os dias atestam a sua existência e sua força.
A satisfação desses impulsos destrutivos naturalmente é facilitada por sua mistura com outros motivos de natureza erótica ou idealista. Quando lemos sobre as atrocidades do passado, amiúde é como se os motivos idealistas servissem apenas de escusa para os desejos destrutivos; e, às vezes – por exemplo, no caso das crueldades da Inquisição – é como se os motivos idealistas tivessem assomado a um primeiro plano na consciência, enquanto os destrutivos lhes emprestassem um reforço inconsciente. Ambos podem ser verdadeiros.
Sigmund Freud
Einstein e Freud; Por que a Guerra?; 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud; Imago Editora; Rio de Janeiro; 1974; páginas 244 (Einstein), 252 e 253 (Freud)
Rui Iwersen
Freud Explica nº 18
A Guerra nº 1
Os conflitos de interesses entre os homens são resolvidos pelo uso da violência
Através de Einstein, de Freud e de outros pensadores, a partir de hoje refletiremos sobre as guerras humanas e suas repercussões ecológicas, sociais e culturais. Inicio o quadro Freud Explica a Guerra com uma pequena síntese de correspondências trocadas entre Einstein e Freud sobre a guerra.
Prezado Professor Freud
A proposta da Liga das Nações e de seu Instituto para a Cooperação Intelectual, em Paris, de que eu convidasse uma pessoa, de minha própria escolha, para um franco intercâmbio de pontos de vista sobre algum problema que eu poderia selecionar, oferece-me excelente oportunidade de conferenciar com o senhor a respeito de uma questão que, da maneira como as coisas estão, parece ser o mais urgente de todos os problemas que a civilização tem de enfrentar. Este é o problema: Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra? (…)
Assim, na indagação ora proposta, posso fazer pouco mais do que procurar esclarecer a questão em referência e, preparando o terreno das soluções mais óbvias, possibilitar que o senhor proporcione a elucidação do problema mediante o auxilio do seu profundo conhecimento da vida instintiva do homem. (…)
A. Einstein.
Prezado Professor Einstein
O senhor começou com a relação entre o direito e o poder. Não se pode duvidar de que seja este o ponto de partida correto de nossa investigação. Mas, permita-me substituir a palavra ‘poder’ pela palavra mais nua e crua ‘violência’? (…) É, pois, um princípio geral que os conflitos de interesses entre os homens são resolvidos pelo uso da violência. É isto o que se passa em todo o reino animal, do qual o homem não tem motivo por que se excluir. No caso do homem, sem dúvida ocorrem também conflitos de opinião que podem chegar a atingir as mais raras nuanças da abstração e que parecem exigir alguma outra técnica para sua solução. Esta é, contudo, uma complicação a mais. (…)
De acordo com nossa hipótese, os instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e a unir – que denominamos ‘eróticos’, exatamente no mesmo sentido em que Platão usa a palavra ‘Eros’ em seu Symposium (…) -; e aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo ou destrutivo. (…)
Nossa teoria mitológica dos instintos facilita-nos encontrar a formula para métodos indiretos de combater a guerra. Se o desejo de aderir à guerra é um efeito do instinto destrutivo, a recomendação mais evidente será contrapor-lhe o seu antagonista, Eros. Tudo o que favorece o estreitamento dos vínculos emocionais entre os homens deve atuar contra a guerra. (…)
A situação ideal, naturalmente, seria a comunidade humana que tivesse subordinado sua vida instintual ao domínio da razão. Nada mais poderia unir os homens de forma tão completa e firme, ainda que entre eles não houvesse vínculos emocionais.
Sigmund Freud
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 241, 246, 252, 255 e 256
Rui Iwersen
Veja mais…
2 Comments to “ Saúde mental”
Quanto à notícia do dia 30 de julho. Obesidade é decorrência de sedentarismo. Dar licença para que o obeso permaneça em casa? Comendo e vendo televisão? Erradíssimo e na contramão da saúde.
Cara Janine.
Tu tens razão em dizer que esta decisão da Justiça de aposentar obesos “está na contramão da saude”. Eu considero que esta decisão está tambem na contramão da história e da luta ecológica e, por esta razão, no dia 30 de julho publiquei a matéria tambem nos artigos “Notícias e Políticas Ambientais” e “Colapso” de GaiaNet.
Aposentar obesos é estimular o consumo de alimentos (um recurso importantíssimo do Planeta) e o sedentarismo, desestimular a alimentação e a movimentação corretas, e estimular a corrupção e o oportunismo, evidentes no hábito atual de grande parte dos brasileiros de tentar obter licenças médicas – “ficar na perícia” – com simulações e mentiras.
Abraço.
Rui Iwersen, editor