Série de GaiaNet nº 21
1501 – O Brasil depois de Cabral nº 2
Pero Vaz de Caminha descreve a terra e o povo que “achou”.
Os homens que avistamos eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas
Neste dia [22 de abril], a hora de véspera, houvemos vista de terra. Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos; ao monte alto o capitão pôs o nome – o Monte Pascal e à terra – a Terra de Vera Cruz. (…)
Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. (…) E o Capitão-mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens.
Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
Pero Vaz de Caminha, A Carta, abril de 1500, Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2019, páginas 7 e 8; foto: Século Diário.
Rui Iwersen, editor de GaiaNet
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Em Defesa da Ciência nº 27
Além do sarampo, a difteria está se espalhando em países europeus devido a corrente antivacinas
E, como se não bastassem as investidas contra a esfericidade da Terra e os riscos das mudanças climáticas, existe ainda o movimento antivacinas. Parte da população passou a olhar com desconfiança para uma das grandes conquistas da humanidade.
“Até hoje, os brasileiros sempre tiveram posição muito favorável às vacinas, porque as pessoas viram os filhos pararem de ficar doentes”, diz o imunologista Jorge Kalil, referência no Brasil e no mundo. Mas o temor de que elas façam mal tem levado ao boicote. Em 2011 houve um surto de sarampo em São Paulo que contaminou 25 crianças – tudo começou porque os pais se negaram a vacinar.
Além do sarampo, a difteria está se espalhando em países europeus devido a essa corrente.
Galileu, Edição 317, dezembro de 2017, Pergunto a um terraplanista, páginas 38 e 39; foto: PT
Rui Iwersen, médico, editor de GaiaNet
Série de GaiaNet nº 21
1501 – O Brasil depois de Cabral nº 1
Pero Vaz de Caminha descreve a terra e o povo que “achou”.
Dou conta a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou
Senhor,
Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que ora nesta navegação se achou, não deixarei também de dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que – para o bem contar e falar – o saiba pior que todos fazer.
Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo que, para aformosear nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu. (…)
Pero Vaz de Caminha, A Carta, abril de 1500, Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2019, página 5 (1ª frase da Carta); foto: BBC
Rui Iwersen, editor de GaiaNet
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Freud Explica nº 54 A Guerra nº 18
Duas coisas nesta guerra despertaram nossa desilusão: a pouca moralidade dos Estados e a brutalidade na conduta de indivíduos
As ilusões nos são recomendadas pelo fato de nos pouparem sentimentos de desprazer e nos permitirem, em seu lugar, gozar de satisfação. Temos, então, de aceitar sem reclamações que, em algum momento, elas se chocam com uma parte da realidade na qual se despedaçam.
Duas coisas nesta guerra despertaram nossa desilusão: a pouca moralidade dos Estados quanto ao exterior, embora se comportem internamente como guardiães das normas morais, e a brutalidade na conduta de indivíduos que, como participantes da mais elevada cultura humana, não se acreditaria serem capazes de fazer algo semelhante.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, página 22; foto: UFMG (1ª guerra mundial)
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Mensagem quixotesca nº 5
Mensagem ao Presidente da República Federativa do Brasil
Reedição desta mensagem às vésperas da sua despedida melancólica de Brasília, por não seguir os conselhos de Don Quixote.
Digníssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil
Com humildade me dirijo novamente a Vossa Excelência com o objetivo único de Vos ajudar a melhor exercer Vosso poder sobre Vosso país e sobre Vosso povo. Com este objetivo dou-vos um novo conselho: Não fortaleça o ódio entre Vossos súditos! Não divida o Vosso povo! Una o Vosso povo! Como tenho visto desde o século XVII, ódio no povo significa ódio entre o povo; divide os súditos e destrói a tão almejada e desejada paz.
Vós, com Vossa vasta cultura de cavalaria, certamente já lestes um pouco de minha história contada por um tal Miguel de Cervantes, um de meus conterrâneos contemporâneos, que conhecia o verdadeiro valor dos cavaleiros andantes. Vossa excelência sabe, portanto, quem Vos fala e com quem Vós falais!
Vossa Excelência não é só presidente da bolha olavista, evangélica, pecuarista ou da bolha da bala. Vossa Excelência é agora Presidente da República Federativa do Brasil. Vossa Excelência é agora presidente de todos os brasileiros, e não somente dos que Vos elegeram ou dos que Vos apoiam.
Em minhas andanças de cavaleiro pelo mundo já vi muitas tribos, reinos e países colapsarem em guerras civis ou em guerras religiosas por sua divisão. Não deixe isso acontecer com Vosso povo! A paz é possível e desejável. A paz entre seu povo deve ser o objetivo de um grande estadista, principalmente de um presidente que se diz terrivelmente cristão, uma religião que prega o amor ao próximo como a si mesmo. Eu e o Freud achamos isso impossível, mas… Vós, que acreditais que isso é possível, lute por isso! Para ter paz em Vosso reino e em Vosso reinado, busque o apoio de todos! Apoie todos! Afinal, todos são Vossos súditos, e Vós sois a autoridade máxima de todos
Ah! E não permitais que outros, em Vosso nome, dividam o Vosso povo! Mesmo contra Vossa natureza, às vezes sejais rude! Não vai ser difícil! Afinal, Vossa Excelência foi treinado para matar! É a velha dialética cultura/natureza!
O Sancho me pediu para dizer a Vossa Excelência que quem divide para reinar não reina um reino, reina sobre um reino.
Rui Iwersen, sob licença póstuma imaginária de Miguel de Cervantes Zaavedra.
Matéria editada originalmente nesta página em 20 de julho de 2019 e reeditada em 22 de setembro de 2022
Série de GaiaNet nº 21 1501 – O Brasil depois de Cabral
O que os portugueses fizeram para construir o Brasil, como fizeram, a que preço, e por quê deste modo? Vejamos nesta nova Série de GaiaNet!
No livro 1499, o repórter historiador Reinaldo José Lopes mostra como era “o Brasil antes de Cabral”, e como, infelizmente, ficou depois do “achamento” da “nova terra”, que “o capitão pôs o nome de a Terra da Vera Cruz”, como diz Caminha. Neste livro, o autor, estudioso da pré-história, descreve como viveram por cerca de 12 mil anos os povos que habitavam o continente sul americano, e também como viveram, lutaram e morreram nossos indígenas após a colonização europeia, impregnada de valores nacionalistas, dominantes, maquiavélicos.
Em 1500, Pero Vaz de Caminha escreve A Carta a “vossa Alteza”, o rei de Portugal. Nesta carta ele descreveu como eram e como viviam os nativos “pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas”. Ele descreve ao novo proprietário como é a nova terra achada, e como são e como vivem os nativos “desta vossa nova terra”.
No livro O Príncipe, Maquiavel descreve como eram os europeus no século XVI, mostra o nacionalismo nascente e o poder dos governantes sobre os subordinados, e nos ajuda a entender o Epílogo do livro 1499: “Por que o Brasil pré-histórico foi derrotado”, triste capítulo do qual extraí textos para esta Série.
1501, a nova Série de GaiaNet, terá cerca de 20 pequenos artigos extraídos destes 3 livros. Iniciarei dia 30 de dezembro com trechos de A Carta que mostram como eram os indígenas do continente com os quais os portugueses tiveram contato, continuarei com trechos do livro 1499, especialmente do Epílogo deste livro que mostram o que aconteceu na relação dos dominantes sobre os povos dominados, e concluirei com citações de Maquiavel aconselhando os príncipes europeus a manter e expandir seus domínios. Veremos, então, como eram os seres humanos que viviam no continente, como eram os “descobridores” dominantes, o que aconteceu aos povos originários, por quê, e como os povos que restaram estão vivendo ou sobrevivendo hoje.
Esta Série será editada a cada 15 dias na página https://gaianet.com/saude-ambiental/, em outras páginas de GaiaNet – www.gaianet.com – e em suas paginas do Facebook (@gaianet.com) e Instagram (@gaianet.blog).
Boa leitura, boas reflexões e boas ações pela possível existência pacífica e saudável dos nossos povos originários, os primeiros brasileiros, os frutos da terra e guardiões de nossas florestas.
Fonteda foto de fundo: Fundação 1º de Maio
Rui Iwersen, editor de GaiaNet
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Série de GaiaNet nº 20 Saúde do Planeta nº 15
A falta de chuva e a seca em regiões da Somália exacerbam a “lacuna da fome”
O aumento das chuvas por causa da mudança climática também causou inundações em algumas regiões do Níger. (…) No outro extremo, a falta de chuva e a seca em regiões da Somália exacerbam a “lacuna da fome”, ou o período de escassez entre as colheitas.
Em Madagascar, o desmatamento agravou uma seca devastadora, impactando severamente a colheita. Nesses locais, nossas equipes também responderam a altos níveis de desnutrição.
A guerra rompe todos os laços de comunidade entre os povos em luta e ameaça deixar uma amargura por muito tempo
A guerra na qual não queríamos acreditar eclodiu e trouxe a desilusão. Não é apenas mais sangrenta e com mais perdas que qualquer uma das guerras anteriores, como consequência das armas poderosamente aperfeiçoadas de ataque e defesa, mas também pelo menos tão cruel, amargurada e implacável quanto qualquer outra anterior.
Ela descarta todas as restrições com as quais as pessoas se comprometeram em tempos de paz, o que tem sido chamado de Direito Internacional, não reconhece as prerrogativas do ferido e do médico, a distinção entre a parte pacífica e a combatente da população, tampouco as reinvindicações de propriedade privada.
Com uma fúria cega, derruba tudo o que está no caminho, como se não devesse haver futuro nem paz entre os seres humanos depois dela. Rompe todos os laços de comunidade entre os povos em luta e ameaça deixar uma amargura que tornará impossível reconectá-los por muito tempo.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, página 19; foto: Fatos Militares (1ª guerra mundial)
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Série de GaiaNet nº 20 Saúde do Planeta nº 14
A mudança nos padrões de chuva está afetando a produção de alimentos e suscitando a disseminação de doenças infecciosas
O aumento das chuvas por causa da mudança climática também causou inundações em algumas regiões do Níger. Pelo segundo ano consecutivo, vimos um número excepcionalmente alto de pacientes com malária e desnutrição em Niamey, capital do país.
A mudança nos padrões de chuva está afetando a produção de alimentos e suscitando a disseminação de doenças infecciosas, como a malária. E a combinação mortal de malária e desnutrição atinge fortemente as crianças menores de 5 anos de idade.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quinta-feira, 17, querer que indígenas tenham cargo no seu governo durante encontro com lideranças dos povos originários durante a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-27), em Sharm el-Sheik, no Egito. O petista, porém, não revelou quem será o titular do novo Ministério dos Povos Originários, promessa de campanha. “Quero que aproveitem meu mandato para que eu possa contribuir com vocês”, afirmou Lula.
“Quero que indígenas participem da governança do País”, acrescentou. Segundo Lula, é importante que representantes dos povos originários ocupem cargos de liderança em órgãos como o da saúde indígena (hoje vinculada ao Ministério da Saúde). (…)
Durante a fala, o presidente eleito também disse que os povos nativos são responsáveis pela preservação da maioria das florestas do mundo e voltou a cobrar recursos de países ricos para a conservação da biodiversidade. “Queremos saber quanto vão nos pagar para cuidar do planeta Terra?”, disse. No evento, onde havia líderes indígenas brasileiros e estrangeiros, o petista ouviu elogios e cobranças. O chefe Terry Teegee, representante dos povos originários da América do Norte, chegou a chamar Lula de “pop star” (…)
Fonte: UOL; foto: Revista Fórum
‘O Brasil voltou’, diz Lula na COP 27, em defesa da luta ‘indissociável’ contra aquecimento global e pobreza
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta quarta-feira (16), no Egito, durante a COP 27, cúpula das Organizações das Nações Unidas (ONU) para discutir os impactos das mudanças climáticas e as ações globais relacionadas à preservação do meio ambiente e à descarbonização.
Lula citou as eleições que ocorreram em outubro no Brasil como “uma das mais decisivas de sua história” e que o pleito foi observado “com atenção inédita pelos demais países”, por “conter o avanço da extrema-direita autoritária e antidemocrática e do negacionismo climático no mundo”, além de estar em jogo a “sobrevivência da Amazônia” e do planeta.
“Estou hoje aqui para dizer que o Brasil está pronto para se juntar novamente aos esforços para a construção de um planeta mais saudável. De um mundo mais justo, capaz de acolher com dignidade a totalidade de seus habitantes – e não apenas uma minoria privilegiada”, disse o presidente eleito. “O Brasil voltou.” (…)
O petista disse ainda que a luta contra o aquecimento global é “indissociável” da luta contra a pobreza. Ele afirmou também que é possível explorar “com responsabilidade a extraordinária biodiversidade da Amazônia, para a produção de medicamentos e cosméticos, entre outros”. “Vamos provar que é possível promover crescimento econômico e inclusão social tendo a natureza como aliada estratégica, e não mais como inimiga a ser abatida a golpes de tratores e motosserras”, disse Lula.
Fonte: InfoMoney
Série de GaiaNet nº 20 Saúde do Planeta nº 11
Cerca de 828 milhões de pessoas foram afetadas pela fome em 2021
Em 2021, 82 mil crianças com desnutrição grave foram admitidas em programas de nutrição de Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Em decorrência de guerras, conflitos e violência, deslocamentos forçados, escassez de água ou inundações, impossibilitando a produção e o cultivo de alimentos e diminuindo os meios de subsistência da população, a insegurança alimentar assola milhões de pessoas no mundo.
Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) apontou que cerca de 828 milhões de pessoas foram afetadas pela fome em 2021. E, em muitos dos locais onde MSF atua, o contexto é alarmante.
Informação Especial, Médicos Sem Fronteiras, Relatório anual 2021, Desnutrição, página 10; foto: Jornal do Estado do Rio
Síntese do livro A Vingança de Gaia de James Lovelock
6. Precisamos urgentemente selar uma paz justa com Gaia enquanto somos fortes o bastante para negociar
Capítulo 9 – Além da Estação Final
Concluindo, neste capítulo James Lovelock analisa, entre outras coisas, as condições sanitárias do Planeta após milênios de maltrato por um de seus filhos –Homo sapiens – e convida os seres humanos a fazerem as pazes com Gaia. Diz Lovelock nas páginas 139 e 145:
“Gaia, a Terra viva, está velha e não mais tão forte como há 2 bilhões de anos. Ela luta contra o aumento inevitável do calor solar a fim de manter a Terra fresca o bastante para sua profusão de vida. Mas, para agravar suas dificuldades, uma dessas formas de vida – os seres humanos, animais tribais aguerridos com sonhos de conquistar até outros planetas – tentou governar a Terra em seu próprio benefício somente”. (…)
“De várias maneiras, estamos em guerra involuntária contra Gaia, e para sobreviver com nossa civilização intacta precisamos urgentemente selar uma paz justa com Gaia enquanto somos fortes o bastante para negociar, e não uma ralé derrotada e debilitada em vias de extinção”.
Matéria editada originalmente em 2009 nesta página, e reeditada em dezembro de 2018; foto: Carta Capital
Rui Iwersen, médico planetário
Série de GaiaNet nº 20 Saúde do Planeta nº 10
Médicos Sem Fronteiras tem operações em vários locais de pontos críticos climáticos
As regiões que passam por fortes choques climáticos costumam abrigar comunidades densamente povoadas e empobrecidas. Esses locais de pontos críticos incluem grandes deltas de rios no sul da Ásia, regiões semiáridas da África e do Oriente Médio; geleiras e bacias hidrográficas na Ásia Central; ilhas baixas e regiões costeiras vulneráveis ao aumento do nível do mar; e áreas cada vez mais afetadas por eventos climáticos extremos, incluindo América Central, Caribe e Pacífico.
Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem operações de grande escala em vários desses locais de pontos críticos climáticos e responde continuamente ao deslocamento da população causado por tempestades, enchentes e secas, incluindo Haiti, Bangladesh, Nigéria, Somália e Iêmen.
Informação, Médicos Sem Fronteiras, nº 49, janeiro 2022, Saúde do Planeta – A crise climática é uma crise humanitária e de saúde, página 8; foto: CicloVivo
Tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra
Último número desta série baseado no livro Por que a guerra? de Freud e Einstein. Os próximos números da série serão baseados em outros livros psico-sociais de Freud em que ele aborda o tema da guerra.
(…) nós os pacifistas, temos uma intolerância constitucional à guerra, digamos, uma idiossincrasia exacerbada no mais alto grau. Realmente, parece que o rebaixamento dos padrões estéticos na guerra desempenha um papel dificilmente menor em nossa revolta do que as suas crueldades.
E quanto tempo teremos que esperar até que o restante da humanidade também se torne pacifista? Não há como dizê-lo. Mas pode não ser utópico esperar que esses dois fatores, a atitude cultural e o justificado medo das consequências de uma guerra futura, venham a resultar, dentro de um tempo previsível, em que se ponha um término à ameaça de guerra.
Por quais caminhos ou por que atalhos isto se realizará, não podemos adivinhar. Mas uma coisa podemos dizer: tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 258 e 259 (pg. 16 e 17 do artigo original). Foto: UOL Notícias (guerra russa na Ucrânia; Kiev).
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Síntese do livro A Vingança de Gaia de James Lovelock
5. Estamos tolhendo a capacidade de Gaia de regular o clima e a química da Terra
Capítulo 6 – Produtos Químicos, Alimentos e Matérias-Primas
Este capítulo serve ao autor para denunciar os malefícios praticados por um animal guerreiro, conquistador e primitivo – Homo sapiens: ‘Não faz muito tempo, estávamos certos de que a vida vegetal havia sido criada por um Deus bondoso para a comermos’.
Neste capítulo James Lovelock nos alerta enfaticamente para o risco das ações humanas contra Gaia. Diz ele à página 108: “Apossando-se maciçamente de terras para alimentar as pessoas e empesteando o ar e a água, estamos tolhendo a capacidade de Gaia de regular o clima e a química da Terra, e se continuarmos assim, corremos o risco de extinção”.
Matéria editada originalmente em 2009 nesta página, e reeditada em dezembro de 2018; foto: Iberdrola
Rui Iwersen, médico planetário
Série de GaiaNet nº 20 Saúde do Planeta nº 9
Com a mudança climática, mais lugares se tornam inabitáveis
A mudança climática está influenciando cada vez mais a mobilidade humana, á medida que mais lugares se tornam inabitáveis.
Estima-se que, até 2050, 2 milhões e meio de pessoas sejam acrescentadas aos ambientes urbanos – onde podem enfrentar o desafio de viver em periferias superlotadas e pouco higiênicas -, com 90% desse aumento ocorrendo na Ásia e na África.
Informação, Médicos Sem Fronteiras, nº 49, janeiro 2022, Saúde do Planeta – A crise climática é uma crise humanitária e de saúde, página 8; foto: A Referência; África
A guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização
As modificações psíquicas que acompanham o processo de civilização são notórias e inequívocas. Consistem num progressivo deslocamento dos fins instintuais e numa limitação imposta aos impulsos instintuais. Sensações que para os nossos ancestrais eram agradáveis, tornaram-se indiferentes ou até mesmo intoleráveis para nós; há motivos orgânicos para as modificações em nossos ideais éticos e estéticos.
Dentre as características psicológicas da civilização, duas aparecem como a mais importantes: o fortalecimento do intelecto, que esta começando a governar a vida instintual, e a internalização dos impulsos agressivos com todas as suas consequentes vantagens e perigos.
Ora, a guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização, e por esse motivo não podemos evitar de nos rebelar contra ela; simplesmente não podemos mais nos conformar com ela. Isto não é apenas um repúdio intelectual e emocional; nós os pacifistas, temos uma intolerância constitucional à guerra, digamos, uma idiossincrasia exacerbada no mais alto grau. Realmente, parece que o rebaixamento dos padrões estéticos na guerra desempenha um papel dificilmente menor em nossa revolta do que as suas crueldades.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, página 258 (pg. 16 do artigo original). Foto: Folha – UOL (guerra russa na Ucrânia).
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Síntese do livro A Vingança de Gaia de James Lovelock
4. Há gente demais vivendo de forma errada
Capítulo 5 – Fontes de Energia
O médico planetário James Lovelock apresenta neste capítulo várias alternativas energéticas para a humanidade, inclusive a energia atômica. Neste capítulo, o autor enfatiza a necessidade de mudança cultural e de modo de vida.
Diz ele nas páginas 77 e 103: “Como sempre, voltamos ao fato inevitável que de há gente demais vivendo de forma errada. (…) Sem mudanças drásticas no estilo de vida, teremos que continuar usando energia de combustíveis fósseis por várias décadas”.
Matéria editada originalmente em 2009 nesta página, e reeditada em dezembro de 2018; foto: Agência Brasil – EBC
Rui Iwersen, médico planetário
Mensagem quixotesca nº 5
Mensagem ao Presidente da República Federativa do Brasil
Digníssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil
Com humildade me dirijo novamente a Vossa Excelência com o objetivo único de Vos ajudar a melhor exercer Vosso poder sobre Vosso país e sobre Vosso povo. Com este objetivo dou-vos um novo conselho: Não fortaleça o ódio entre Vossos súditos! Não divida o Vosso povo! Una o Vosso povo! Como tenho visto desde o século XVII, ódio no povo significa ódio entre o povo; divide os súditos e destrói a tão almejada e desejada paz.
Vós, com Vossa vasta cultura de cavalaria, certamente já lestes um pouco de minha história contada por um tal Miguel de Cervantes, um de meus conterrâneos contemporâneos, que conhecia o verdadeiro valor dos cavaleiros andantes. Vossa excelência sabe, portanto, quem Vos fala e com quem Vós falais!
Vossa Excelência não é só presidente da bolha olavista, evangélica, pecuarista ou da bolha da bala. Vossa Excelência é agora Presidente da República Federativa do Brasil. Vossa Excelência é agora presidente de todos os brasileiros, e não somente dos que Vos elegeram ou dos que Vos apoiam.
Em minhas andanças de cavaleiro pelo mundo já vi muitas tribos, reinos e países colapsarem em guerras civis ou em guerras religiosas por sua divisão. Não deixe isso acontecer com Vosso povo! A paz é possível e desejável. A paz entre seu povo deve ser o objetivo de um grande estadista, principalmente de um presidente que se diz terrivelmente cristão, uma religião que prega o amor ao próximo como a si mesmo. Eu e o Freud achamos isso impossível, mas… Vós, que acreditais que isso é possível, lute por isso! Para ter paz em Vosso reino e em Vosso reinado, busque o apoio de todos! Apoie todos! Afinal, todos são Vossos súditos, e Vós sois a autoridade máxima de todos
Ah! E não permitais que outros, em Vosso nome, dividam o Vosso povo! Mesmo contra Vossa natureza, às vezes sejais rude! Não vai ser difícil! Afinal, Vossa Excelência foi treinado para matar! É a velha dialética cultura/natureza!
O Sancho me pediu para dizer a Vossa Excelência que quem divide para reinar não reina um reino, reina sobre um reino.
Rui Iwersen, sob licença póstuma imaginária de Miguel de Cervantes Zaavedra.
Matéria editada originalmente em 20 de julho de 2019
Dia Mundial de Limpeza de rios e praias
O Dia Mundial da Limpeza é um movimento cívico que une 191 países e milhões de pessoas em todo o mundo para limpar o planeta. Em um único dia! No dia 17 de setembro de 2022, o Dia Mundial da Limpeza acontecerá pela 5ª vez. Desde 2018, 50 milhões de pessoas saíram e limparam suas cidades, rios e comunidades dos resíduos.
A mudança climática causará aproximadamente 15 milhões de casos adicionais de malária a cada ano
Quando o tempo se torna mais quente e os padrões de chuva mudam, os insetos – como mosquitos que transmitem doenças como malária, dengue e chikungunya – reproduzem-se mais rapidamente e sobrevivem em lugares onde não sobreviviam antes, expondo mais pessoas a essas doenças potencialmente mortais.
Estima-se que a mudança climática causará aproximadamente 15 milhões de casos adicionais de malária a cada ano. Os casos de dengue aumentaram 10 vezes nos últimos 20 anos, e o vírus está agora presente em mais de 100 países.
A mudança do clima também significa que veremos mais carrapatos e as enfermidades que carregam, como a doença de Lyme.
Informação, Médicos Sem Fronteiras, nº 49, janeiro 2022, Saúde do Planeta – A crise climática é uma crise humanitária e de saúde, páginas 6 e 7; foto: Revista Galileu
Por que o senhor [Albert Einstein], eu e tantas outras pessoas nos revoltamos tão violentamente contra a guerra? Por que não aceitamos como mais uma das calamidades da vida?
Afinal, parece ser uma coisa muito natural, parece ter uma base biológica e ser dificilmente evitável na prática. Não há motivo para se surpreender com o fato de eu levantar esta questão. Para o propósito de uma investigação como esta, poder-se-ia, talvez, permitir-se usar uma máscara de suposto alheamento.
A resposta à minha pergunta será a de que reagimos à guerra dessa maneira, porque toda pessoa tem o direito à sua própria vida, porque a guerra põe um término a vidas plenas de esperanças, porque conduz os homens individualmente a situações humilhantes, porque os compele, contra a sua vontade, a matar outros homens e porque destrói objetos materiais preciosos, produzidos pelo trabalho da humanidade.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 256 e 257. Foto: CNN Brasil
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Síntese do livro A Vingança de Gaia de James Lovelock
2. História da Vida de Gaia
Capítulo 3 – História da Vida de Gaia
Nesta breve síntese deste importante livro de James Lovelock, apresento algumas informações, advertências e conselhos do autor que, com realismo científico, neste capítulo faz uma análise retrospectiva e prospectiva do planeta Terra – de seu nascimento à sua futura morte.
Diz James Lovelock nas páginas 47, 51 e 52: A vida na Terra começou há 3 ou 4 bilhões de anos. (…) Naquela época prematura, o Sol era provavelmente 25 por cento menos luminoso do que hoje. (…) Como o Sol vai ficando mais quente, o calor recebido pela Terra agora é maior do que quando a vida começou, há mais de 3 bilhões de anos. (…) Daqui a cerca de um bilhão de anos, e muito antes do fim da vida solar, o calor recebido pela Terra [hoje 1,35 quilowatts/m2] será superior a 2 quilowatts por metro quadrado, mais do que a Gaia que conhecemos consegue suportar. Ela morrerá de superaquecimento.
Matéria editada originalmente em 2009 nesta página e reeditada em dezembro de 2018; foto: Stoodi
Rui Iwersen, médico planetário
Saúde do Planeta nº 5
Instabilidade política e condições climáticas extremas levam a crises humanitárias no mundo
Ao longo de 20 anos de conflito, a instabilidade política e as condições climáticas extremas levaram a uma das crises humanitárias mais prolongadas do mundo na Somália.
Enchentes intensas e frequentes, secas e enxames de gafanhotos diminuíram os meios de subsistência da população e comprometeram a segurança alimentar, atingindo principalmente as crianças.
Em resposta, Médicos Sem Fronteira administra um programa de combate à fome no sul da Somália que visa a prevenir e a tratar a desnutrição aguda durante a estação de escassez por meio de vigilância ativa, triagem e atendimento ambulatorial.
Informação, Médicos Sem Fronteiras, nº 49, janeiro 2022, Saúde do Planeta – A crise climática é uma crise humanitária e de saúde, página 6; foto: Agrosmart
Tudo o que favorece o estreitamento dos vínculos emocionais entre os homens deve atuar contra a guerra
Nossa teoria mitológica dos instintos facilita-nos encontrar a formula para métodos indiretos de combater a guerra. Se o desejo de aderir à guerra é um efeito do instinto destrutivo, a recomendação mais evidente será contrapor-lhe o seu antagonista, Eros. Tudo o que favorece o estreitamento dos vínculos emocionais entre os homens deve atuar contra a guerra. (…)
A situação ideal, naturalmente, seria a comunidade humana que tivesse subordinado sua vida instintual ao domínio da razão. Nada mais poderia unir os homens de forma tão completa e firme, ainda que entre eles não houvesse vínculos emocionais.
Sigmund Freud
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 255 e 256. Foto: CNN Brasil, Ucrânia
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Saúde do Planeta nº 4
As secas e o excesso de água aumentam a insegurança alimentar e a desnutrição
Quando há pouca água, não é possível cultivar e produzir alimentos. As secas aumentam a insegurança alimentar e a desnutrição. Por outro lado, o excesso de água pode gerar pragas e doenças que prejudicam as colheitas.
O aumento do nível do mar, ao trazer água salgada para as áreas costeiras, torna a agricultura impossível, o que também afeta os sistemas de produção de alimentos.
Em 2021, a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciou que Madagascar estava prestes a enfrentar a primeira crise climática de fome no mundo.
Informação, Médicos Sem Fronteiras, nº 49, janeiro 2022, Saúde do Planeta – A crise climática é uma crise humanitária e de saúde, página 6; foto: Escola Kids – UOL
O Dia Mundial da Conservação da Natureza foi criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas e comemora-se a 28 de Julho. Este dia tem como objetivo chamar a atenção para os problemas da conservação da Natureza.
Pouco se sabe sobre o mar e o grande desafio a ser enfrentado é engajar a população na proteção dos oceanos. Este foi o ponto principal discutido pelos participantes em “Um olhar para o oceano”, na tarde de quinta, 14 de julho.
Janaína Bumbeer, especialista em conservação da biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, apresentou os resultados de uma pesquisa que constatou que 80% das pessoas desconhecem que a maior parte do oxigênio que respiramos vem do mar.
Ana Asti, subsecretária de Recursos Hídricos e Sustentabilidade da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade, lembrou a estimativa feita pela ONU de que até 2050 o oceano terá a mesma quantidade de peixes e de plástico.
Flavio Andrade, CEO da Ocean Pact, que desenvolve soluções seguras ambientalmente para operações submarinas, reforçou a necessidade de conhecimento e investimento para se cuidar e proteger o oceano. “Precisamos ter em mente que, dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, o de número 14 – Vida na Água, é o que recebeu menor volume de investimentos globalmente”, disse o CEO da empresa.
O biólogo Ricardo Gomes, diretor do Instituto Mar Urbano e diretor do documentário Baía Urbana, sobre a Baía da Guanabara, associou-se à Flavio Andrade em uma ação de replantio de 30 mil árvores no mangue da baía. “Nós nos preocupamos com bens, mas a grande herança que podemos deixar para nossos filhos é o oceano saudável”, disse Ricardo, que também é mergulhador e chamou a atenção do mundo todo para a Baía de Guanabara. (…)
Fonte: Aegea Blog
Rui Iwersen
GLOCAL EXPERIENCE – Rio de Janeiro, 9 a 17 de julho
Um laboratório de inovação social para reimaginar e reintegrar territórios rumo a 2030
A GLOCAL Experience nasceu em maio de 2022 e permanecerá até o ano de 2030 quando os pactos sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) serão apresentados.
Certamente novas propostas surgirão para os próximos anos. E a GLOCAL Experience quer contar com a sua contribuição na agenda de ações dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O evento proporcionará ao público um espaço de interações sociais, debates, workshops, atividades imersivas, oficinas, cinema, área de exposição, gastronomia sustentável e muito mais.
Esta é a sua oportunidade de participar desse laboratório de inovação social para reimaginar e reintegrar territórios rumo a 2030. Não perca a chance de ajudar a traduzir os objetivos globais em transformações locais.
Um espaço aberto, com diversas áreas integradas para atrair pessoas a experimentarem momentos de conhecimento, cultura, reflexão, interatividade e diálogos para a ação!
Durante a EXPO da GLOCAL Experience teremos uma série de atrações para estimular e inspirar as pessoas a refletir sobre o planeta que queremos no futuro.
Fonte: glocalexperience.com.br
Rui Iwersen
Freud Explica A Guerra nº 7
É impossível estabelecer qualquer julgamento geral das guerras de conquista
Guerras dessa espécie terminam ou pelo saque ou pelo completo aniquilamento e conquista de uma das partes. É impossível estabelecer qualquer julgamento geral das guerras de conquista. Algumas, como as empreendidas pelos mongóis e pelos turcos, não trouxeram senão malefícios.
Outras, pelo contrário, contribuíram para a transformação da violência em lei, ao estabelecerem unidades maiores, dentro das quais o uso da violência se tornou impossível e nas quais um novo sistema de leis solucionou os conflitos. Desse modo, as conquistas dos romanos deram aos países próximos ao Mediterrâneo a inestimável pax romana, e a ambição dos reis franceses de ampliar os seus domínios criou uma França pacificamente unida e florescente.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 249 e 250; foto: Pragmatismo Político, invasão da Ucrânia pela Rússia.
Rui Iwersen, médico psiquiatra
O desafio ecológico nº 22
O gênero humano tem agora pelo menos três inimigos comuns – guerra nuclear, mudança climática e disrupção tecnológica
22º e último artigo desta Série de GaiaNet inspirada no Capítulo 7do livro 21 lições para o século 21 de Yuval Noah Hararari – Nacionalismo; Problemas globais exigemrespostas globais.
Enquanto o mundo permanecer dividido em nações rivais será muito difícil superar simultaneamente os três desafios [ecológico, tecnológico e genético] – e o fracasso em uma única dessas frentes pode se mostrar catastrófico.
Para concluir, a onda nacionalista que varre o mundo não pode fazer o relógio recuar para 1939 ou 1914. A tecnologia mudou tudo ao criar um conjunto de ameaças existenciais globais que nenhuma nação é capaz de resolver sozinha.
Um inimigo comum é o melhor catalisador para a formação de uma identidade comum, e o gênero humano tem agora pelo menos três desses inimigos – guerra nuclear, mudança climática e disrupção tecnológica. Se apesar dessas ameaças comuns os humanos privilegiarem suas lealdades nacionais particulares acima de tudo, os resultados serão muito piores que os de 1914 e 1939.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais, páginas 160 e 161. Foto: Jornal da USP, guerra da Russia na Ucrânia
Países que se esforçam por ultrapassar as conquistas tecnológicas de seus rivais acharão difícil concordar com um plano comum para deter a mudança climática
Assim como desafios diferentes tendem a se reforçar reciprocamente, também a boa vontade necessária para enfrentar um desafio pode ser corrompida devido a problemas em outra frente.
Países envolvidos em competição armamentista não são propensos a concordar com restrições ao desenvolvimento de Inteligência Artificial, e países que se esforçam por ultrapassar as conquistas tecnológicas de seus rivais acharão muito difícil concordar com um plano comum para deter a mudança climática.
Enquanto o mundo permanecer dividido em nações rivais será muito difícil superar simultaneamente os três desafios [ecológico, tecnológico e genético] – e o fracasso em uma única dessas frentes pode se mostrar catastrófico.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; A espaçonave Terra, página 160. Foto: Blog WayCarbon, fotos da NASA
As mudanças climáticas e as disrupções tecnológicas podem aumentar o perigo de guerras apocalípticas
(…) o ritmo do desenvolvimento tecnológico disparou porque as nações envolvidas em uma guerra total mandaram a cautela e a economia para o espaço e investiram imensos recursos em todo tipo de projetos audaciosos e fantásticos. (…)
Da mesma forma, as nações, ante um cataclismo climático, poderiam ficar tentadas a investir suas esperanças em apostas tecnológicas desesperadas. O gênero humano tem muitas e sofisticadas dúvidas quanto à Inteligência Artificial e à bioengenharia, mas em tempos de crise as pessoas fazem coisas arriscadas.
O que quer que você pense quanto a regular tecnologias disruptivas, pergunte a si mesmo se é provável que essas regulações se mantenham mesmo que a mudança climática cause escassez de alimentos, inunde cidades em todo o mundo e obrigue centenas de milhões de refugiados a cruzar fronteiras.
As disrupções tecnológicas, por sua vez, poderiam aumentar o perigo de guerras apocalípticas não só ao acirrar as tensões globais, mas também ao desestabilizar o equilíbrio do poder nuclear.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; A espaçonave Terra, páginas 159 e 160. Foto: Hypeness
A história humana revela uma série infindável de conflitos
Vemos, pois, que a solução violenta de conflitos de interesses não é evitada sequer dentro de uma comunidade. As necessidades cotidianas e os interesses comuns, inevitáveis ali onde pessoas vivem juntas num lugar, tendem, contudo, a proporcionar a essas lutas uma conclusão rápida, e, sob tais condições, existe uma crescente probabilidade de se encontrar uma solução pacífica.
Outrossim, um rápido olhar pela história da raça humana revela uma série infindável de conflitos entre uma comunidade e outra, ou diversas outras, entre unidades maiores e menores – entre cidades, províncias, raças, nações, impérios -, que quase sempre se formaram pela força das armas. Guerras dessa espécie terminam ou pelo saque ou pelo completo aniquilamento e conquista de uma das partes.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, página 249; foto: Agência Brasil – EBC, Guerra russa na Ucrânia.
Rui Iwersen
O desafio ecológico nº 19
A mudança climática pode vir a desempenhar a mesma função das duas guerras mundiais
À medida que a crise ecológica se aprofunda, o desenvolvimento de tecnologias de alto risco e alto ganho provavelmente só vai acelerar.
Na verdade, a mudança climática pode vir a desempenhar a mesma função das duas guerras mundiais. Entre 1914 e 1918, e novamente entre 1939 e 1945, o ritmo do desenvolvimento tecnológico disparou porque as nações envolvidas em uma guerra total mandaram a cautela e a economia para o espaço e investiram imensos recursos em todo tipo de projetos audaciosos e fantásticos.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; A espaçonave Terra, página 159. Foto: Dom Total, 2ª guerra mundial
À medida que a crise ecológica se aprofunda, o desenvolvimento de tecnologias provavelmente vai acelerar
Cada um desses três problemas – guerra nuclear, colapso ecológico e disrupção tecnológica – é suficiente para ameaçar o futuro da civilização. Mas, tomados em conjunto, eles se somam a uma crise existencial sem precedente, em especial porque provavelmente irão se reforçar e recompor mutuamente.
Por exemplo, mesmo que a crise ecológica ameace a sobrevivência da civilização humana como a conhecemos, é improvável que detenha o desenvolvimento da Inteligência artificial e da bioengenharia.
Se você está contando com elevação dos oceanos, a constante diminuição no suprimento de alimentos e as migrações em massa para desviar nossa atenção dos algoritmos e dos genes, pense novamente. À medida que a crise ecológica se aprofunda, o desenvolvimento de tecnologias de alto risco e alto ganho provavelmente só vai acelerar.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; A espaçonave Terra, páginas 158 e 159. Foto: FIA
Rui Iwersen, médico planetário, de Recife, Pernambuco
Ainda compartilhamos com neandertais e chimpanzés a maior parte de nossas estruturas corporais, habilidades físicas e faculdades mentais
Depois de 4 bilhões de anos de vida orgânica evoluindo por seleção natural, a ciência está nos levando à era da vida inorgânica configurada por design inteligente.
Neste processo, o Homo sapiens provavelmente desaparecerá. Ainda somos macacos da família dos hominídeos. Ainda compartilhamos com neandertais e chimpanzés a maior parte de nossas estruturas corporais, habilidades físicas e faculdades mentais. Não só nossas mãos, olhos e cérebro são distintamente hominídeos como também nosso amor, nossa paixão, nossa raiva e nossos vínculos sociais.
Dentro de um ou dois séculos, a combinação de biotecnologia e Inteligência Artificial poderá resultar em traços corporais, físicos e mentais que se libertem completamente do molde hominídeo. Alguns acreditam que a consciência poderia até mesmo ser dissociada de toda estrutura orgânica, e surfar pelo ciberespaço livre de todas as restrições biológicas e físicas
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio tecnológico, página 158. Foto: G1 – Globo
Rui Iwersen, médico planetário, de Fortaleza, Ceará
Devemos evitar a guerra nuclear e o colapso ecológico
Para evitar uma corrida ao fundo do poço, o gênero humano provavelmente vai precisar de algum tipo de identidade e lealdade global. Além disso, enquanto a guerra nuclear e a mudança climática ameaçam apenas a sobrevivência física do gênero humano, tecnologias disruptivas podem mudar a própria natureza da humanidade, e estão entrelaçadas com as mais profundas crenças éticas e religiosas humanas.
Enquanto todos concordam que devíamos evitar a guerra nuclear e o colapso ecológico, as pessoas têm opiniões muito diferentes quanto ao uso da bioengenharia e da Inteligência Artificial para aprimorar os humanos e criar novas formas de vida.
Se o gênero humano não conseguir conceber e administrar diretrizes éticas globalmente aceitas, estará aberta a temporada para o dr. Frankenstein.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais, O desafio tecnológico, página 157. Foto: Iberdrola
A guerra se constitui na mais óbvia oposição à atividade psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização
A pedido de Einstein e da Liga das Nações (a atual ONU), Freud explica a guerra.
Prezado Professor Einstein
(…) As modificações psíquicas que acompanham o processo de civilização são notórias e inequívocas. Consistem num progressivo deslocamento dos fins instintuais e numa limitação imposta aos impulsos instintuais. (…) Dentre as características psicológicas da civilização, duas aparecem como as mais importantes: o fortalecimento do intelecto, que está começando a governar a vida instintual, e a internalização dos impulsos agressivos com todas as suas consequências e perigos. Ora, a guerra se constitui na mais óbvia oposição à atividade psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização.
Mas uma coisa podemos dizer: tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra.
Cordialmente, Sigmund Freud
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 258 e 259; foto: guerra do Vietinã.
Rui Iwersen
Matéria editada originalmente nesta página dia 14 de junho de 2015.
O desafio ecológico nº 15
A fusão de tecnologia da informação com a biotecnologia abre a porta para um leque de cenários apocalípticos
Como não existe uma resposta nacional ao problema do aquecimento global, alguns políticos nacionalistas preferem acreditar que o problema não existe. É provável que a mesma dinâmica estrague qualquer antídoto nacionalista à terceira ameaça existencial do século XXI: a disrupção tecnológica.
Como vimos em capítulos anteriores, a fusão de tecnologia da informação com a biotecnologia abre a porta para uma cornucópia de cenários apocalípticos, que vão desde ditaduras digitais até a criação de uma classe global de inúteis. Qual é a resposta nacionalista a essas ameaças?
Não existe uma resposta nacionalista. Como no caso da mudança climática, também na disrupção tecnológica o Estado-nação é simplesmente o contexto errado para enfrentar a ameaça. Uma vez que pesquisa e desenvolvimento não são monopólio de nenhum país, nem mesmo uma superpotência como os Estados Unidos pode restringi-los a si mesma.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio tecnológico, páginas 156 e 157. Foto: Blog Gestão de Segurança Privada
O ceticismo quanto à mudança climática tende a ser exclusivo da direita nacionalista
Uma bomba atômica é uma ameaça tão óbvia e imediata que ninguém pode ignorá-la. O aquecimento global, em contraste, é uma ameaça mais vaga e prolongada. Daí que, sempre que considerações ambientais de longo prazo exigem algum sacrifício, nacionalistas podem ser tentados a pôr interesses nacionais em primeiro lugar, e se tranquilizam dizendo que podem se preocupar com o meio ambiente mais tarde, ou deixar isso para pessoas de outros lugares. Ou então podem simplesmente negar a existência do problema.
Não é coincidência que o ceticismo quanto à mudança climática tende a ser exclusivo da direita nacionalista. Raramente veem-se socialistas ou a esquerda proclamar que “a mudança climática é um embuste chinês”. Como não existe uma resposta nacional ao problema do aquecimento global, alguns políticos nacionalistas preferem acreditar que o problema não existe.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, página 156. Foto: Conexão Planeta
Nacionalistas talvez sejam míopes e autocentrados demais para avaliar o perigo
Rússia, Irã e Arábia Saudita dependem da exportação de petróleo e gás. Suas economias entrarão em colapso se o petróleo e o gás de repente derem lugar ao sol e vento. Consequentemente, enquanto algumas nações, como China, Japão e Kiribati provavelmente farão forte pressão para a redução das emissões de carbono o mais cedo possível, outras nações, como a Rússia e o Irã, podem ficar muito menos entusiasmadas.
Mesmo em países suscetíveis a grandes perdas com o aquecimento global, como os estados Unidos, nacionalistas talvez sejam míopes e autocentrados demais para avaliar o perigo. Um exemplo pequeno, porém eloquente, foi dado em janeiro de 2018 [era Trump], quando os Estados Unidos impuseram uma tarifa de 30% sobre painéis solares de fabricação estrangeira, preferindo apoiar produtores americanos mesmo ao preço de retardar a mudança para a energia renovável.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, páginas 155 e 156. Foto: Superinteressante
Consequências da devastação das nascentes do Cerrado
O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil: são mais de 2 milhões de quilômetros quadrados espraiados por 12 estados. É também lar de uma imensa diversidade de vida: mais de 13 mil espécies de plantas, 850 de aves e 250 de mamíferos.
Está encarapitado sobre três dos principais aquíferos da América do Sul: o Guarani, o Bambuí e o Urucuia. A água que chove no Cerrado penetra o solo e fica armazenada na rocha porosa. É distribuída para o Brasil inteiro: estima-se que, em diferentes proporções, o Cerrado abasteça oito das 12 regiões hidrográficas do país. A água do subsolo ainda responde por cerca de 90% da vasão dos rios do bioma. (…)
Com frequência cada vez maior, a água que deveria penetrar o solo, para alimentar aquíferos e lençóis freáticos, escorre pela superfície e se evapora. (…) O fenômeno é consequência de um acelerado processo de desmatamento.
Fonte: Revista Época nº 979; 27 de março de 2017; Fronteiras ecológicas;Falta água, sobra pasto; páginas 70 e 71
Matéria editada originalmente em GaiaNet em 22 de setembro de 2017
Rui Iwersen
O desafio ecológico nº 12
O aquecimento global provavelmente terá impacto diferente em diferentes nações
O aquecimento global, em contraste, provavelmente terá impacto diferente em diferentes nações. Alguns países, notadamente a Rússia, podem se beneficiar dele.(…) Enquanto temperaturas mais altas provavelmente transformariam a China num deserto, elas podem simultaneamente fazer a Sibéria o celeiro do mundo. (…)
Da mesma forma, é provável que a substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia seja mais atraente para alguns países do que para outros. China, Japão e Coreia do Sul dependem da importação de enormes quantidades de petróleo e gás. Ficarão felizes de se livrar desse fardo. Rússia, Irã e Arábia Saudita dependem da exportação de petróleo e gás. Suas economias entrarão em colapso se o petróleo e o gás de repente derem lugar ao sol e vento.
Consequentemente, enquanto algumas nações (…) farão pressão para a redução das emissões de carbono o mais cedo possível, outras nações, como a Rússia e o Irã, podem ficar muito menos entusiasmadas.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, páginas 155 e 156. Foto: R7 Tecnologia e Ciência
Quando os seres humanos são incitados à guerra, entre eles está certamente o desejo de agressão e destruição
A pedido de Einstein e da Liga das Nações (a atual ONU), Freud explica a guerra, como vemos no diálogo abaixo.
Prezado professor Freud
Para concluir: Até aqui somente falei das guerras entre nações, aquelas que se conhecem como conflitos internacionais. Estou, porém, bem consciente de que o instinto agressivo opera sob outras formas e em outras circunstâncias. (Penso nas guerras civis, por exemplo, devidas à intolerância religiosa, em tempos precedentes, hoje em dia, contudo, devidas a fatores sociais; ademais, também nas perseguições a minorias raciais.) (…)
Sei que nos escritos do senhor podemos encontrar respostas, explícitas ou implícitas, a todos os aspectos desse problema urgente e absorvente. Mas seria da maior importância para nós todos que o senhor apresentasse o problema da paz mundial sob o enfoque das suas mais recentes descobertas, pois uma tal apresentação bem poderia demarcar o caminho para novos e frutíferos métodos de ação. (…)
A. Einstein.
Prezado Professor Einstein
De acordo com nossa hipótese, os instintos humanos são de apenas dois tipos: aqueles que tendem a preservar e a unir – que denominamos ‘eróticos’, exatamente no mesmo sentido que Platão usa a palavra ‘Eros’ (…) -; e aqueles que tendem a destruir e matar, os quais agrupamos como instinto agressivo ou destrutivo. (…)
Muito raramente uma ação é obra de um impulso instintual único (que deve estar composto de Eros e destrutividade). A fim de tornar possível uma ação, há que haver, via de regra, uma combinação desses motivos compostos. (…) De forma que, quando os seres humanos são incitados à guerra, podem ter toda uma gama de motivos para se deixarem levar (…) Entre eles está certamente o desejo de agressão e destruição: as incontáveis crueldades que encontramos na história e em nossa vida de todos os dias atestam a sua existência e sua força.
A satisfação desses impulsos destrutivos naturalmente é facilitada por sua mistura com outros motivos de natureza erótica ou idealista. Quando lemos sobre as atrocidades do passado, amiúde é como se os motivos idealistas servissem apenas de escusa para os desejos destrutivos; e, às vezes – por exemplo, no caso das crueldades da Inquisição – é como se os motivos idealistas tivessem assomado a um primeiro plano na consciência, enquanto os destrutivos lhes emprestassem um reforço inconsciente. Ambos podem ser verdadeiros.
Sigmund Freud
Einstein e Freud; Por que a Guerra?; 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud; Imago Editora; Rio de Janeiro; 1974; páginas 244 (Einstein), 252 e 253 (Freud); foto: menina do napalm, guerra do Vietinã.
Rui Iwersen
Matéria editada originalmente nesta página dia 30 de outubro de 2014
O desafio ecológico nº 11
Alguns países, notadamente a Rússia, podem se beneficiar do aquecimento global
O isolacionismo nacionalista talvez seja mais perigoso no contexto de mudança climática do que no contexto de uma guerra nuclear. Uma guerra nuclear em escala mundial ameaçaria destruir todas as nações, e assim todas as nações têm interesse em evitá-la.
O aquecimento global, em contraste, provavelmente terá impacto diferente em diferentes nações. Alguns países, notadamente a Rússia, podem se beneficiar dele. A Rússia tem poucos ativos em seu litoral, daí estar muito menos preocupada que a China ou o Kiribati quanto à elevação do nível do mar. E enquanto temperaturas mais altas provavelmente transformariam a China num deserto, elas podem simultaneamente fazer a Sibéria o celeiro do mundo.
Além disso, enquanto o gelo derrete no extremo norte, as rotas no mar Ártico dominado pela Rússia podem tornar-se a artéria do comercio global, e Kamchatka poderá substituir Cingapura como o entroncamento do mundo.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, página 155. Foto: Revista Galileu – Globo
Quando se trata de clima, os países não são soberanos
Há, portanto, muitas coisas que governos, corporações e indivíduos podem fazer para evitar a mudança climática. Mas para que sejam eficazes devem ser feitas num nível global. Quando se trata de clima, os países simplesmente não são soberanos. Estão à mercê de ações realizadas por pessoas no outro lado do planeta.
A República de Kiribati – uma nação insular no oceano Pacífico – pode reduzir sua emissão de gás de efeito estufa a zero, e assim mesmo ficar submersa com a elevação das águas se outros países não seguirem seu exemplo. O Chade pode pôr painéis solares em todos os telhados do país e ainda assim tornar-se um deserto árido devido às políticas ambientais irresponsáveis de estrangeiros longínquos.
Até mesmo nações poderosas como China e Japão não são soberanas no que concerne à ecologia. Para proteger Xangai, Hong Kong e Tóquio de inundações e tufões destrutivos, chineses e japoneses terão de convencer os governos russo e americano a abandonar seu comportamento tradicional.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, páginas 154 e 155. Foto: DomTotal
O desenvolvimento tecnológico pode ajudar a impedir o colapso ecológico
… o primeiro hambúrguer limpo foi criado a partir de células – e depois comido – em 2013. Custou 330 dólares. Quatro anos de pesquisa e desenvolvimento trouxeram o preço para onze dólares por unidade, e dentro de mais uma década espera-se que a carne limpa produzida industrialmente seja mais barata do que a carne abatida.
Esse desenvolvimento tecnológico pode salvar bilhões de animais de uma vida de miséria abjeta, ajudar a alimentar bilhões de humanos malnutridos e ao mesmo tempo ajudar a impedir o colapso ecológico.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, página 154. Foto: iStock
A prosperidade crescente de países vai piorar a pressão sobre o meio ambiente
A pressão sobre o meio ambiente provavelmente vai piorar à medida que a prosperidade crescente de países como China e Brasil permitir que centenas de milhões deixem de comer apenas batatas e passem a comer carne regularmente.
Seria difícil convencer chineses e brasileiros – isso sem mencionar americanos e alemães – a parar de comer bifes, hambúrgueres e salsichas. Mas e se os engenheiros fossem capazes de encontrar uma maneira de produzir carne a partir de células? Se quiser um hambúrguer, crie só um hambúrguer, em vez de criar e abater uma vaca inteira (e transportar a carcaça por milhares de quilômetros).
Isso pode soar como ficção científica, mas o primeiro hambúrguer limpo foi criado a partir de células – e depois comido – em 2013.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, página 154. Foto: Tecnologia no Campo
A indústria da carne também é uma das causas do aquecimento global
Inovações tecnológicas podem ser úteis em muitos outros campos além da energia. Considere, por exemplo, o potencial de desenvolver uma “carne limpa”.
Atualmente a indústria da carne não só inflige imenso sofrimento a bilhões de seres sencientes como também é uma das causas do aquecimento global, um dos principais consumidores de antibióticos e veneno e um dos maiores poluidores do ar, da terra e da água.
Segundo um relatório de 2013 da Institution of Mechanical Engineers, são necessários 15 mil litros de água fresca para produzir um quilograma de carne bovina, comparados com 287 litros para produzir um quilograma de batatas.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, páginas 153 e 154. Foto: Portal das Missões
Dispomos de muito pouco tempo para nos desapegar dos combustíveis fósseis
Quando esse ciclo ultrapassar um limiar crítico, ele vai criar um impulso próprio irresistível, e todo o gelo das regiões polares derreterá mesmo que os humanos parem de queimar carvão, petróleo e gás. Por isso não basta que reconheçamos o perigo que enfrentamos. É crucial que façamos algo quanto a isso agora.
Infelizmente, em 2018, em vez de haver uma redução na emissão de gás de efeito estufa, a taxa global de emissão está aumentando. [e já estamos em 2022 e continua igual ou pior]
a humanidade dispõe de muito pouco tempo para se desapegar dos combustíveis fósseis. Temos de começar a desintoxicação hoje. Não no ano que vem ou no mês que vem, mas hoje.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, páginas 152 e 153. Foto: Climainfo
Não basta que reconheçamos o perigo que enfrentamos
Essas mudanças, por sua vez, vão desmantelar a produção agrícola, inundar cidades, tornar grande parte do mundo inabitável e despachar centenas de milhões de refugiados em busca de novos lares.
Além disso, estamos nos aproximando rapidamente de um certo número de pontos de inflexão além dos quais mesmo uma queda dramática na emissão de gases de efeito estufa não será suficiente para reverter essa tendência e evitar uma tragédia de abrangência mundial. Por exemplo, à medida que o aquecimento global derrete os mantos de gelo polar, menos luz solar é refletida do planeta Terra para o espaço. Isso quer dizer que o planeta estará absorvendo mais calor, as temperaturas se elevarão ainda mais e o gelo derreterá ainda mais rapidamente.
Quando esse ciclo ultrapassar um limiar crítico, ele vai criar um impulso próprio irresistível, e todo o gelo das regiões polares derreterá mesmo que os humanos parem de queimar carvão, petróleo e gás. Por isso não basta que reconheçamos o perigo que enfrentamos. É crucial que façamos algo quanto a isso agora.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, páginas 152 e 153. Foto: Mata Nativa
Mesmo que a civilização se adapte posteriormente às novas condições, quem sabe quantas vítimas perecerão no processo de adaptação?
Este experimento aterrorizante já foi acionado. Ao contrário de uma guerra nuclear – que é um futuro potencial – , a mudança climática é uma realidade presente. Existe um consenso científico de que as atividades humanas, particularmente a emissão de gases de efeito estufa como o dióxido de carbono, estão fazendo o clima da terra mudar num ritmo assustador.
Ninguém sabe exatamente quanto dióxido de carbono podemos continuar lançando na atmosfera sem desencadear um cataclismo irreversível. Mas nossas melhores estimativas científicas indicam que a menos que cortemos dramaticamente a emissão de gases de efeito estufa nos próximos vinte anos, a temperatura média global se elevará em 2º C, o que resultará na expansão de desertos, no desaparecimento das calotas de gelo, na elevação dos oceanos e em maior recorrência de eventos climáticos extremos, como furacões e tufões.
Essas mudanças, por sua vez, vão desmantelar a produção agrícola, inundar cidades, tornar grande parte do mundo inabitável e despachar centenas de milhões de refugiados em busca de novos lares.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, página 152. Foto: Sustentável
O curso atual da história poderá solapar os fundamentos da civilização humana
Se continuarmos no curso atual, isso não apenas causará a aniquilação de um grande percentual de todas as formas de vida como poderá também solapar os fundamentos da civilização humana.
A ameaça maior é a mudança climática. Os humanos existem há centenas de milhares de anos, e sobreviveram a inúmeras idades do gelo e ondas de calor. No entanto, a agricultura, as cidades e as sociedades complexas existem a menos de 10 mil anos.
Durante esse período, conhecido como Holoceno, o clima da Terra tem sido relativamente estável. Qualquer desvio dos padrões do Holoceno apresentará às sociedades humanas desafios enormes com as quais nunca se depararam. Será como fazer um experimento em aberto com bilhões de cobaias humanas.
Mesmo que a civilização se adapte posteriormente às novas condições, quem sabe quantas vítimas perecerão no processo de adaptação?
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais; O desafio ecológico, páginas 151 e 152. Foto: Brasil Escola – UOL
Nós rompemos o delicado equilíbrio ecológico da Terra
Não temos nem sequer ideia das dezenas de milhares de maneiras com que rompemos o delicado equilíbrio ecológico que se configurou ao longo de milhões de anos.
Considere, por exemplo, o uso de fosfato como fertilizante. Em pequenas quantidades é um nutriente essencial para o crescimento de plantas. Mas em quantidades excessivas torna-se tóxico. A agricultura industrial moderna baseia-se em fertilizar artificialmente os campos com muito fosfato, mas a grande quantidade de fosfato que escorre das fazendas vai envenenar rios, lagos e oceanos, com impacto devastador na vida marinha. Um agricultor que cultiva milho em Iowa pode estar inadvertidamente matando peixes no golfo do México.
Como resultado dessas atividades, hábitats são degradados, animais e plantas são extintos e ecossistemas inteiros, como a Grande Barreira de Corais australiana e a Floresta Amazônica, podem ser destruídos.
Yuval Noah Hararari, 21 lições para o século 21, Companhia das Letras, 2018, 4ª impressão, Capítulo 7 – Nacionalismo – Problemas globais exigem respostas globais, O desafio ecológico, página 151. Foto: Mundo Educação – UOL
.A utilização de aparelhos de ar condicionado vem aumentando na proporção do aumento da temperatura média da Terra. O aquecimento global significa provável aumento progressivo do consumo de energia elétrica, com repercussões ambientais (represamento de rios e queima de carvão e óleo diesel) e aumento de gastos pessoais e empresariais. Para quem tem o privilégio de ter um aparelho de ar condicionado e alguma preocupação ecológica e econômica, algumas dicas são úteis e convenientes, especialmente se, ao contrário de Donald Trump, acreditar no aquecimento global antrópico. .
A temperatura recomendada para o verão oscila entre 24 e 28ºC (~26ºC), uma temperatura confortável. No verão, por utilizarmos menos roupas, não é necessário baixar tanto a temperatura do ar condicionado para que estejamos confortáveis. Estes detalhes são importantes para a eficiência energética da casa ou do escritório e para a poupança energética. .
No inverno não faz sentido chegar a casa, colocar roupas de verão e ligar o ar condicionado a 26ºC. É um desperdício energético! No verão devemos colocar o ar condicionado a ~26ºC e no inverno a ~22ºC. .
Quanto menor for a diferença de temperatura entre o interior e o exterior maior é a capacidade de poupar energia e ser eficiente.
Acredita-se que deixar o local de trabalho na média de 23ºC ou 24°C no verão seja agradável ao corpo humano por não necessitar de casacos e ainda assim aliviar o calorão. É uma temperatura bastante democrática que ajuda a evitar brigas entre pessoas que gostam mais ou menos do friozinho. Há ainda normativas trabalhistas que estipulam essa temperatura entre 20°C e 24°C, a escolha dependendo da região, da estação do ano, do calor, e das pessoas.
Ao ligar o aparelho no verão, o ideal é que a temperatura seja ajustada para 23ºC ou 24ºC, para que a diferença de temperatura do ambiente externo e interno não seja tão drástica, reduzindo a carga térmica e, consequentemente, fazendo com que o ar condicionado trabalhe menos. A economia de energia pode atingir 50%. .
Locais com ar condicionado tendem a ter o ar mais seco e tendem a irritar a mucosa e a garganta, causando problemas respiratórios. É altamente recomendado que a temperatura não fique abaixo de 23ºC e nem que o ar gelado seja inalado diretamente. .
Mais algumas dicas para economizar com o ar:
Mantenha portas e janelas bem fechadas, para evitar a entrada do ar da rua;
Evite o calor do sol no ambiente, fechando cortinas e persianas;
Mantenha os filtros limpos. Filtros sujos forçam o aparelho a trabalhar mais;
Desligue o aparelho sempre que você se ausentar do ambiente por muito tempo…
Fonte: Noctul; Komeco; Ar condicionado pro; Faz fácil; minha experiência médica e ecológica.
Matéria editada em GaiaNet em 04 de janeiro de 2017 e 24 de dezembro de 2018
Rui Iwersen
A Vingança de Gaia nº 13
Nosso objetivo deve ser tentar manter o mundo futuro o menos quente possível
Último artigo desta série baseada no livro A Vingança de Gaia, escrito em 2006 por James Lovelock, com importantes alertas, advertências e conselhos sobre as mudanças climáticas causadas pelo homem, e que estão apenas iniciando.
Apesar de toda a vontade e entusiasmo, qualquer tecnologia nova ainda leva de vinte a quarenta anos para se tornar global. Foi o que aconteceu com a máquina a vapor, a eletricidade, a aviação, o rádio e a televisão, e os computadores.
É importante lembrar que a capacidade de usar combustível relativamente barato não é limitada pela disponibilidade de petróleo bruto. (…) Gasolina, óleo diesel e combustível para a aviação continuarão sendo consumidos, mas produzidos cada vez mais a partir de combustíveis fósseis gasosos e sólidos. Os químicos podem descobrir meios de produzir esses combustíveis, e outros menos poluentes, para o transporte a partir de qualquer fonte de energia, até nuclear. Mas tamanha é a inércia da civilização industrial que provavelmente continuaremos [diz ele em 2006] consumindo combustível fóssil pelo menos por uma década.
O pensamento mais sombrio é a possibilidade de que não consigamos eliminar as emissões em tempo. Pense na dificuldade de nações grandes, como China, Índia e Estados Unidos, superarem a inércia social de suas populações imensas. Aconteça o que acontecer, temos de abrir mão, o mais rápido possível, dos combustíveis fósseis, porque, mesmo depois de transposto o limiar da mudança climática irreversível, a extensão e o grau da mudança adversa continuarão sendo afetados por nossas ações.
Nosso objetivo atual deve ser tentar manter o mundo futuro o menos quente possível.
James Lovelock, A Vingança de Gaia, cap. 5 – Fontes de energia, 2006, Editora Intrínseca, Rio de Janeiro, 2006, página 78; foto: Ética Ambiental
O Dia Mundial da Luta Contra AIDS é um dia que, cada ano, deve servir para desenvolver e reforçar o esforço mundial da luta contra a AIDS. O objetivo deste dia é estabelecer o entrelaçamento de comunicação, promover troca de informações e experiências, e de criar um espírito de tolerância social.
O Dia Mundial da Luta Contra a AIDS dá a ocasião de se falar da infecção por HIV e da AIDS, de se ocupar das pessoas infectadas pelo HIV e com a AIDS, e de se saber mais sobre esta doença. Este dia internacional de ação coordenada contra a AIDS constitui já um evento anual na maior parte dos países.
Evocando as atividades de luta já em curso e encorajando novas iniciativas, o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS contribui para edificar uma ação durável contra a AIDS.
(Tradução e adaptação do “Journée Mondiale SIDA – Information n.º 1” da Organisation Mondiale de la Santé – Programme Mondial de Lutte Contre le SIDA).
Fonte: Giv.org.br e da página Calendário Ecológico de GaiaNet
A Vingança de Gaia nº 10
Como morre um rio
Em vez de usarem fertilizantes de nitrato, [os fazendeiros de Devon, na Inglaterra] passaram a espalhar em sua terra o esterco coletado no inverno, quer diretamente ou como estrume misturado com água. Para um ambientalista urbano, tratava-se de uma forma orgânica apropriada de atividade rural. Mas, no início da década de 1980, as águas límpidas do rio Carey haviam se tornado marrons e espumosas, com cheiro de esgoto ao ar livre.
No verão, os trechos tranquilos, onde os peixes saltavam para capturar moscas, estavam cobertos de algas verdes viscosas e plantas daninhas, e o rio aos poucos morria. Essa nova atividade rural orgânica vinha enchendo o rio de quantidades de esterco bem acima do que ele conseguia digerir. Cada tempestade levava esterco dos campos para o rio, e logo o nível de oxigênio do rio caiu para zero.
Muitas das espécies parceiras que constituem o ecossistema de um rio – as plantas verdes que colocam oxigênio na água, as numerosas espécies de insetos que vivem no rio e sob as pedras ao longo de seu leito – morreram, principalmente por falta de luz para a fotossíntese e de anoxia.
Já não havia insetos para alimentar os peixes do rio, de modo que eles não tinham chance de voltar nas épocas em que a poluição por estrume líquido fosse menor.
James Lovelock, A Vingança de Gaia, cap. 6 – Produtos químicos, alimentos e matérias-primas, 2006, Editora Intrínseca, Rio de Janeiro, 2006, página 112; foto: ND Mais
O relatório sobre o clima, publicado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), é um “alerta vermelho” que deve fazer soar os alarmes sobre as energias fósseis que “destroem o planeta”. A afirmação foi feita pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres.
O relatório mostra uma avaliação científica dos últimos sete anos e “deve significar o fim do uso do carvão e dos combustíveis fósseis, antes que destruam o planeta”, segundo avaliação de Guterres, em comunicado.
O secretário pede que nenhuma central de carvão seja construída depois de 2021. “Os países também devem acabar com novas explorações e produção de combustíveis fósseis, transferindo os recursos desses combustíveis para a energia renovável”, acrescentou Guterres.
O relatório estima que o limiar do aquecimento global (de + 1,5° centígrado), em comparação com o da era pré-industrial, vai ser atingido em 2030, dez anos antes do que tinha sido projetado anteriormente, “ameaçando a humanidade com novos desastres sem precedentes”.
“Trata-se de um alerta vermelho para a humanidade”, disse António Guterres. “Os alarmes são ensurdecedores: as emissões de gases de efeito estufa provocadas por combustíveis fósseis e o desmatamento estão sufocando o nosso planeta”, disse o secretário. (…)
De acordo com o documento do IPCC, a temperatura global subirá 2,7 graus em 2100, se se mantiver o atual ritmo de emissões de gases de efeito estufa. No novo relatório, que saiu com atraso de meses devido à pandemia de covid-19, o painel considera vários cenários, dependendo do nível de emissões que se alcance.
Manter a atual situação, em que a temperatura global é, em média, 1,1 grau mais alta que no período pré-industrial (1850-1900), não seria suficiente: os cientistas preveem que, dessa forma, se alcançaria um aumento de 1,5 grau em 2040, de 2 graus em 2060 e de 2,7 em 2100. Esse aumento, que acarretaria mais acontecimentos climáticos extremos, como secas, inundações e ondas de calor, está longe do objetivo de reduzir para menos de 2 graus, fixado no Acordo de Paris (…)
Os peritos reconhecem que a redução de emissões não terá efeitos visíveis na temperatura global até que se passem duas décadas, ainda que os benefícios para a contaminação atmosférica possam ser notados em poucos anos.
A história do clima e a composição da atmosfera da Terra
Existe agora uma grande variedade de atividades de monitoramento globais. As temperaturas do ar e do mar são medidas continuamente, bem como os gases da atmosfera, a cobertura de nuvens, o gelo flutuante e as geleiras, e a saúde dos ecossistemas no oceano e em terra. (…) Outra fonte importante de informações sobre a causa da mudança climática é o registro geológico a longo prazo. Aprendemos muito sobre a história do clima e a composição da atmosfera da Terra analisando gelo extraído das profundezas das geleiras da groenlândia e Antártida.
Ao cair sobre as geleiras, a neve carrega ar nos espaços entre os cristais. Cada nova queda de neve soterra a predecessora, de modo que o ar fica preso em pequenas bolhas lacradas compostas de gelo, formando um registro contínuo que retrocede à neve caída há 1 milhão de anos. As bolhas presas no gelo de núcleos perfurados nas geleiras fornecem amostras de atmosferas passadas, e sua análise revela a composição dessas atmosferas passadas.
Esse vasto banco de dados oferece agora um registro não apenas dos gases principais, oxigênio e nitrogênio, mas também de gases residuais, dióxido de carbono e metano. (…) Nesse grande depósito de informações, encontramos indícios que reforçam nossa afirmação de que temperatura e quantidade de dióxido de carbono [CO2] estão extreitamente relacionadas.
James Lovelock, A Vingança de Gaia, capítulo 4 – Previsões para o Século XXI, páginas 63 e 64; foto: Internacional – Estadão
Previsões de mudanças climáticas não dependem unicamente de modelos teóricos em forma de simulações computadorizadas da Terra. Existe agora uma grande variedade de atividades de monitoramento globais.
As temperaturas do ar e do mar são medidas continuamente, bem como os gases da atmosfera, a cobertura de nuvens, o gelo flutuante e as geleiras, e a saúde dos ecossistemas no oceano e em terra. A verdade dos modelos é, portanto, constantemente testada em relação às observações do mundo real.
Satélites em órbita ao redor da Terra monitoram seu cenário em constante mudança. Os instrumentos mais sutis a bordo desses veículos espaciais monitoram temperaturas em diferentes níveis no ar e muitos gases atmosféricos diferentes, além de verificarem a saúde dos ecossistemas.
Muitas vezes acho que a grande maravilha não celebrada do programa espacial é o quanto revelou sobre a Terra.
James Lovelock, A Vingança de Gaia, capítulo 4 – Previsões para o Século XXI, página 63; foto: Sputinik Brasil
“Reminiscências linguísticas comprovam que a parte do sacrifício atribuída ao deus era a princípio considerada como sendo, literalmente, o seu alimento. À medida que a natureza dos deuses tornava-se progressivamente menos material, essa concepção transformou-se num empecilho e foi evitada, atribuindo-se à deidade apenas a parte líquida da refeição.
Posteriormente, o uso do fogo, que fez com que a carne do sacrifício sobre os altares se elevasse em fumaça, forneceu um método de lidar com o alimento humano mais apropriado à natureza divina. A oferenda de bebida consistia originalmente no sangue da vítima animal, substituído mais tarde por vinho. Nos tempos antigos, o vinho era considerado ‘o sangue da uva’ e foi assim descrito por poetas modernos.” [Robertson Smith, 1894, páginas 224, 229 e 230]
Sigmund Freud, Totem e Tabu, 1913; Rio de Janeiro, Imago Editora, 1974; página 155; foto: Matriz Santo Estevão de Ituporanga
Matéria editada originalmente nesta página dia 16 de setembro de 2013
Rui Iwersen
Freud explica nº 6 A religião nº 4
Os ovos de Santa Clara que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, encaminhou para as Irmãs Clarissas do Mosteiro da Gávea. Mais cedo o papa Francisco havia recomendado que ele colocasse ovos aos pés de Santa Clara para que a chuva parasse.
Nestes últimos exemplos, como em tantos outros do funcionamento da magia, o elemento da distância é desprezado; em outras palavras, a telepatia é admitida como certa. (…)
Se desejo que chova, tenho apenas de efetuar algo que se assemelhe à chuva ou faça lembra-la. Numa fase posterior da civilização, em vez dessa chuva mágica, serão feitas procissões até um templo e preces pedindo chuva serão dirigidas à divindade que nele habita. (…)
Enquanto a magia ainda reserva a onipotência apenas para os pensamentos, o animismo transmite um pouco dela para os espíritos, preparando assim o caminho para a criação de uma religião. (…)
Sigmund Freud, Totem e Tabu, 1913; Rio de Janeiro, Imago Editora, 1974; páginas 96, 97 e 109; foto: BOL Fotos
Matéria editada originalmente nesta página dia 31 de julho de 2013
Rui Iwersen
Alerta à Humanidade nº 49
Dia da Sobrecarga da Terra chega mais cedo
Em 2021, a humanidade excedeu sua cota anual de recursos regeneráveis em 29 de julho, três semanas antes do que em 2020. Seriam necessárias 1,7 Terras para satisfazer nossas necessidades de consumo.
Hoje, a humanidade consome 74% a mais do que o que os ecossistemas globais podem regenerar
Após um adiamento temporário devido à pandemia em 2020 – quando o Dia da Sobrecarga da Terra foi em 22 de agosto – em 2021 a data em que a humanidade esgotou todos os recursos biológicos que a Terra regenera ao longo de um ano acontece três semanas antes, neste 29 de julho. No Brasil, a cota foi esgotada dois dias antes, em 27 de julho.
“Apesar de nos restar quase meio ano, já esgotamos nossa cota de recursos biológicos para 2021”, advertiu Susan Aitken, líder do Conselho Municipal de Glasgow, onde lideranças mundiais se reunirão em novembro para a cúpula climática COP26. “Se precisamos lembrar que estamos sob uma emergência climática e ecológica, o Dia da Sobrecarga da Terra é a ocasião para isso”, lembrou.
Como grande parte do mundo estava vivendo sob lockdowns impostos devido ao coronavírus no ano passado, o Dia da Sobrecarga aconteceu quase um mês depois do recorde de 2018, quando foi em 25 de julho. Mas mesmo que as emissões de carbono causadas por viagens aéreas e transporte rodoviário ainda estejam abaixo dos altos índices de 2019, a economia global em ascensão está empurrando as emissões e o consumo de volta para cima. (…)
O Dia da Sobrecarga da Terra existe desde 2006. A Global Footprint Network (GFN), organização de pesquisa que apresenta a data a cada ano junto com o grupo ambiental WWF, compara o cálculo a um extrato bancário que rastreia receitas em relação aos gastos. Ele considera milhares de dados da ONU sobre recursos como florestas biologicamente produtivas, pastagens, terras de cultivo, áreas de pesca e áreas urbanas. Esse cálculo é então medido em relação à demanda desses recursos naturais, entre eles alimentos de origem vegetal, madeira, gado, peixe e a capacidade das florestas de absorver emissões de dióxido de carbono.
Hoje, a humanidade consome 74% a mais do que o que os ecossistemas globais podem regenerar. Para continuar vivendo nos padrões atuais, precisaríamos dos recursos de cerca de 1,7 planetas. E isso não parece mudar tão cedo. (…)
Matéria enviada pelo colaborador de GaiaNet Jorge F. Schneider; fonte: DW – Made for minds
#DesmatamentoNão #ReflorestamentoSim
#DesmatamentoNãoReflorestamentoSim
Alerta à Humanidade nº 48
Mudanças climáticas: chuvas torrenciais na Europa e China; secas e incêndios nas Américas do Sul e do Norte
Imensa quantidade de água tem causado inundações gigantescas, alagado cidades e derrubado casas em países da Europa Central. É o maior número de mortos na Alemanha desde 1962. (…) As inundações no rio Elba, que em 2002 foram anunciadas como “inundações que acontecem uma vez por século”, mataram centenas de pessoas no leste da Alemanha e em toda a Europa. As chuvas deste ano têm afetado também a Bélgica, e Holanda, França e Luxemburgo em menor intensidade. (1)
Na China, 12 pessoas morreram em uma linha de metrô que foi inundada em Zhengzhou, que registrou as chuvas mais fortes em mil anos, segundo autoridades meteorológicas. (2)
A onda de calor na América do Norte apareceu em junho de 2021 devido a uma crista excepcionalmente forte centrada sobre a área, cuja força foi um efeito das mudanças climáticas. (…) A onda de calor provocou inúmeros e extensos incêndios florestais atingindo centenas de quilômetros quadrados de área, que levaram a uma grande perturbação em diversas estradas. Um deles destruiu em grande parte a vila de Lytton, Columbia Britânica, local onde foi estabelecido o recorde de temperatura na história do Canadá. (…) (3)
O centro e o sul do Brasil enfrentam no momento a pior seca em quase um século, e imagens recentemente capturadas por satélite da NASA na região do Lago das Brisas, no rio Parnaíba, em Minas Gerais, ilustram a gravidade de tal quadro. (…) Dos 14 reservatórios próximos monitorados pela agência americana, 7 apresentaram os níveis mais baixos medidos desde 1999 na região, e nas proximidades da fronteira do Brasil com o Paraguai o Rio Paraná apresenta níveis em 8,5 metros abaixo da média (…) (4)
Artigo publicado na Nature por pesquisadores brasileiros revela que o leste do bioma amazônico já emite mais carbono do que remove da atmosfera, graças ao desmatamento e mudanças climáticas. A Amazônia desempenha um papel crucial para o planeta, absorvendo e concentrando carbono que poderia estar na atmosfera. Mas essa capacidade está sendo reduzida, em decorrência do desmatamento descontrolado e das mudanças climáticas, sobretudo no leste da Amazônia. O bioma está se transformando em emissor de carbono, em vez de um sumidouro. Pesquisadores brasileiros constataram que a intensificação da estação seca e o crescente desmatamento promovem um distúrbio no ecossistema, a ponto de aumentar a incidência de queimadas e das emissões de gases de efeito estufa. (…) (5)
Fontes: (1) e (2) G1; (3) Wikipédia; (4) Hypeness; (5) National Geographic. foto: MetSul Meteorologia
Rui Iwersen, médico planetário
#DesmatamentoNão #ReflorestamentoSim
#DesmatamentoNãoReflorestamentoSim
Freud explica nº 3 A religião nº 2
(…) O animismo [a doutrina de seres espirituais em geral] é um sistema de pensamento. Ele não fornece simplesmente uma explicação de um fenômeno específico, mas permite-me apreender todo o universo como uma unidade isolada, de um ponto de vista único. A raça humana, se seguirmos as autoridades no assunto, desenvolveu, no decurso das eras, três desses sistemas de pensamento – três grandes representações do universo: animista (ou mitológica), religiosa e científica. (…)
Ao examinar o fato de as mesmas idéias animistas haverem surgido entre os povos mais variados e em todos os períodos, Wundt declara que ‘elas constituem o produto psicológico necessário de uma consciência mitocriadora (…) e assim, neste sentido, o animismo primitivo deve ser encarado como a expressão espiritual do estado natural do homem’.
Com esses três estágios em mente [animismo, religião e ciência], pode-se dizer que o animismo em si mesmo não é ainda uma religião, mas contém os fundamentos sobre os quais as religiões posteriormente foram criadas.
Sigmund Freud, Totem e Tabu, 1913; Rio de Janeiro, Imago Editora, 1974; páginas 93 e 94; foto: Enciclopédia Global
Matéria editada originalmente nesta página dia 18 de julho de 2013
Rui Iwersen
Em Defesa da Ciência nº 25
A crítica e o pensamento criativo
(…) A crítica é essencial para o pensamento criativo. Cada avanço na aquisição de conhecimento cresce a partir do questionamento e da negação de conceitos estabelecidos. Nenhum avanço no pensamento pode ser dado sem que haja transcendência e, portanto, mudança de compreensão ou de formulações anteriores.
Copérnico rejeitou o conceito de Ptolomeu de que a Terra era o centro do universo, e demonstrou que ela é um planeta girando em volta do Sol. Darwin negou a visão escolástica de que Deus criara cada espécie animal, resultando daí a teoria da evolução. Einstein rejeitou a aplicabilidade da física de Newton aos fenômenos astronômicos, apresentando a teoria da relatividade. A psicanálise não teria posto a descoberto os segredos do inconsciente se Freud não houvesse abalado as idéias aceitas sobre histeria.
Essas aquisições foram possíveis porque cada um desses homens tinha idéias próprias e a coragem de dizer “não”. A mente inquisidora é o intelecto cético de uma natureza ávida e curiosa. (…)
Alexander Lowen, Prazer – Uma abordagem criativa da vida, Círculo do Livro S.A., São Paulo, 1970, página 153; foto: Interdimensionais
Rui Iwersen
Edito a partir de hoje os 10 números do quadro “Freud explica” sobre “a religião” editados nesta página, e que serão seguidos por novas edições.
Freud explica nº 2 A religião nº 1
Wundt descreve o tabu como o código de leis não escrito mais antigo do homem. É suposição geral que o tabu é mais antigo que os deuses e remonta a um período anterior à existência de qualquer espécie de religião. (…)
A punição pela violação de um tabu era, sem dúvida, originalmente deixada a um agente interno automático: o próprio tabu violado se vingava. Quando, numa fase posterior, surgiram as idéias de deuses e espíritos, com os quais os tabus se associaram, esperava-se que a penalidade proviesse automaticamente do poder divino. (…)
Nem o medo nem os demônios podem ser considerados pela psicologia como as coisas mais primitivas, impenetráveis a qualquer tentativa de descobrimento de seus antecedentes. A coisa seria diferente se os demônios realmente existissem. Mas sabemos que, como os deuses, eles são criações da mente humana: foram feitos por algo e de algo.
Sigmund Freud, Totem e Tabu, 1913; Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 32, 34 e 38; foto: Maiores e Melhores
Matéria editada originalmente no dia 16 de julho de 2013
Rui Iwersen
Freud explica nº 40 A agressividade nº 22
O sentimento de culpa como expressão da ambivalência e da luta entre Eros e o instinto de morte
(…) Matar o pai* ou abster-se de matá-lo não é, realmente, a coisa decisiva. Em ambos os casos, todos estão fadados a sentir culpa, porque o sentimento de culpa é uma expressão tanto do conflito devido à ambivalência, quanto da eterna luta entre Eros e o instinto de destruição ou morte. Esse conflito é posto em ação tão logo os homens se defrontem com a tarefa de viverem juntos.
Enquanto a comunidade não assume outra forma que não seja a da família, o conflito está fadado a se expressar no complexo edipiano, a estabelecer a consciência e a criar o primeiro sentimento de culpa. Quando se faz uma tentativa para ampliar a comunidade, o mesmo conflito continua sob formas que dependem do passado; é fortalecido e resulta numa identificação adicional do sentimento de culpa.
Visto que a civilização obedece a um impulso erótico interno que leva os seres humanos a se unirem num grupo estreitamente ligado, ela só pode alcançar seu objetivo através de um crescente fortalecimento do sentimento de culpa. O que começou em relação ao pai é completado em relação ao grupo.
Se a civilização constitui o caminho necessário de desenvolvimento, da família à humanidade como um todo, então, em resultado do conflito inato surgido da ambivalência, da eterna luta entre as tendências de amor e de morte, acha-se a ele inextricavelmente ligado um aumento do sentimento de culpa, que talvez atinja alturas que o individuo considere difíceis de tolerar. (…)
Freud, Sigmund, 1930, O Mal-Estar na Civilização, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 94 e 95; foto: G1
* teoria exposta por Freud no livro Totem e Tabu de 1913
Rui Iwersen
Dia Mundial das Florestas
Alerta à Humanidade nº 47
A importância das florestas para a vida e a saúde humanas
Como médico planetário, como se dizia o médico inglês James Lovelock, e como editor desde 2009 do blog ecológico GaiaNet, venho observando que Gaia está doente, e que seu desequilíbrio vem sendo causado por um de seus frutos, o Homo sapiens, a espécie animal que se tornou hegemônica no planeta e que não zela por seu berço e por seu lar.
Para refletirmos sobre nosso papel e nosso futuro no planeta, apresento alguns dados preocupantes sobre a relação Homem/natureza, especialmente sobre a relação humana com as florestas de Gaia e sobre a enorme possibilidade futura de novas viroses ou outras zoonoses.
Com esta preocupação sanitária e humanista, no dia 21 de março é celebrado o Dia Internacional das Florestas. Segundo o site Brasil Escola, citado na página Calendário Ecológico do blog GaiaNet, “para sensibilizar a população sobre a importância das florestas na manutenção dos ecossistemas e no desenvolvimento sustentável, a ONU criou o Dia Internacional das Florestas.”
Mas, com a destruição progressiva das florestas, os homens vem produzindo a desertificação do planeta e as mudanças climáticas, com o temível aquecimento global e as alterações dos ciclos das chuvas, tão importante para a agricultura e para a saúde e o equilíbrio do Planeta.
Este processo não é somente atual e localizado. Segundo artigo publicado pelo site Conexão UFRJ e divulgado na página Florestas Brasileiras de GaiaNet, o início da atividade agrícola, há 10 mil anos, fixou o homem, tornando-o sedentário. Com o passar dos tempos, o sedentarismo aliado ao desenvolvimento tecnológico, sobretudo após a Revolução Industrial, permitiu que a população humana crescesse em ritmo exponencial. Consequentemente, os seres humanos passaram a ocupar, cada vez mais, áreas silvestres, florestas, com o intuito de explorar seus recursos para fins econômicos, especialmente no contexto contemporâneo. Assim, avançaram sobre ecossistemas naturais, transformando-os e destruindo espécies vegetais e animais.
Uma maior exposição humana, as zoonoses, enfermidades naturalmente transmissíveis entre animais e humanos, têm se verificado nesse processo. O vírus SARS-CoV-2, supostamente oriundo de morcegos, é um exemplo do que, hoje, assola o mundo e impressiona por sua velocidade de transmissão, seu potencial de perdas humanas e pelo elevado nível de incertezas que traz consigo. Vale lembrar que muitas florestas também constituem reservatórios de zoonoses e, portanto, os esforços para sua preservação ou uso sustentável devem ser respeitados, sob o risco de favorecer ocorrências futuras de novas pandemias.
Segundo o médico francês Fhillipe Juvin, em entrevista para a revista época de 25 de janeiro de 2021, também citado em GaiaNet, o mundo subestima os perigos. Há provavelmente uma relação direta entre o desmatamento, principalmente na América do Sul, e o fato de que animais que viviam distantes dos humanos estejam, hoje, em contato. Nos próximos anos, devemos prever novas transmissões de vírus de animais para nós. Devemos tirar também uma lição em relação ao meio ambiente nesta crise. Um grande artigo publicado na revista Science explica isso: cientistas estimam entre 631 mil e 827 mil o número de vírus capazes de passar do animal ao homem se não dermos atenção à gestão do meio ambiente. Isso ainda não acabou.
Segundo dados do Greenpeace, entidade defensora do planeta e de suas florestas, mais de mil árvores são derrubadas a cada minuto na Floresta Amazônica. Segundo esta ONG, além da destruição da floresta, a invasão coloca espécies da fauna e flora do Brasil em risco de extinção. Esta não é apenas uma ameaça para a Amazônia e para o povo brasileiro. Este é um golpe fatal na esperança de um futuro possível para toda a humanidade – uma batalha que não podemos perder.
Felizmente, o caminho escolhido pela humanidade é ainda reversível. Há alguns anos os cientistas, ao discutirem sobre colonização do Universo, refletem sobre uma técnica de produção, em outros planetas, de condições ambientais e climáticas semelhantes às de nosso planeta – a Terra Formação. Se esta técnica é possível em outros planetas, começando talvez do zero, pode ser útil para a reconstrução de nosso planeta. Bastaria começarmos por dois simples passos: acabar com o desmatamento e iniciar o reflorestamento das áreas desmatadas e/ou degradadas e sem necessidade imprescindível para a alimentação e para a existência humanas.
A foto deste artigo representa um excelente exemplo de reflorestamento urbano, executado por um grupo de voluntários de Florianópolis, do qual com muita honra participei nos anos 1990, e que hoje é um ambiente bonito e saudável para humanos, pássaros e outros animais – o Parque da Luz.
No Dia Internacional das Florestas, e para o nosso futuro, cabe entre os ecologistas e humanistas a seguinte palavra de ordem: #DesmatamentoNãoReflorestamentoSim
Rui Iwersen, médico planetário, editor de GaiaNet
Alerta à Humanidade nº 46
Cientistas estimam entre 631 mil e 827 mil o número de vírus capazes de passar do animal ao homem
Para o senhor, o mundo não estava preparado para esta epidemia?
O mundo subestima os perigos. Há provavelmente uma relação direta entre o desmatamento, principalmente na América do Sul, e o fato de que animais que viviam distantes dos humanos estejam, hoje, em contato. Nos próximos anos, devemos prever novas transmissões de vírus de animais para nós. Devemos tirar também uma lição em relação ao meio ambiente nesta crise. Um grande artigo publicado na revista Science explica isso: cientistas estimam entre 631 mil e 827 mil o número de vírus capazes de passar do animal ao homem se não dermos atenção à gestão do meio ambiente. Isso ainda não acabou.
Fhilippe Juvin, médico francês, diretor do Hospital Europeu Georges Pompidou em Paris; revista Época nº 1175, 25 de janeiro de 2021, página 35; foto: Climainfo
Rui Iwersen
Em Defesa da Ciência nº 24
O pai do Greenpeace
[Humboldt] O popstar viajante do século 19 escalou vulcões, foi ídolo de Darwin, fundou a ecologia e anteviu o aquecimento global. (…) Conheça o barão workaholic que explicou a natureza aos europeus.
(…) Hamboldt desembarcou aqui em 1799. Ficou deslumbrado com a natureza sul-americana. E preocupado também. No litoral da Venezuela percebeu que o desflorestamento para abrir espaço para a agricultura, acompanhado de drenagem dos córregos para irrigação, fazia o nível da água do lago Valência cair ano após ano.
Nos Llanos, uma savana similar ao cerrado brasileiro, Humboldt perccebeu que palmeiras chamadas buritis são uma espécie-chave para o ecossistema: os frutos comestíveis atraem pássaros, a terra úmida nos troncos protege insetos e minhocas da aridez. Se elas fossem cortadas, tudo entraria em colapso.
Para um europeu do século 18, essas eram ideias radicais. Os contemporâneos de Humboldt pensavam que cortar árvores era essencial para que o ar se tornasse mais fresco e circulasse melhor. Alexis de Tocqueville disse que a ideia de um homem com um machado tornava bela a paisagem do EUA.
O conde de Buffon descrevia florestas como ambientes decrépitos e úmidos, que precisavam ser subjugados por jardins, hortas e pasto. (…)
Humboldt – ilustre desconhecido, Super Interessante, edição 422, dezembro de 2020, páginas 54 e 57; foto: Revista Pesquisa Fapesp
Rui Iwersen
Reflexão sobre o racismo nº 17
O racismo institucionalizado na América
(…) 55 anos após a aprovação da Lei dos Direitos Civis e 155 anos desde a abolição da escravidão, os negros continuam sendo desfavorecidos na sociedade americana.
É nítido que, quando comparados com os brancos, os americanos negros têm nível de escolarização, saúde e renda inferiores, e desemprego superior. Além disso, praticamente todos eles, qualquer que seja sua condição financeira, sofrem uma estigmatisação enervante, por mais que a maioria deles jamais tenha cometido qualquer crime.
O racismo é institucionalizado em silêncio, mas de forma persistente, em quase todos os setores da vida americana, das grandes corporações até as empresas artísticas. (…)
Scott Turow, Duas Américas – Não há pacto no horizonte, Revista Época, nº 1172, 28 de dezembro de 2020, pg. 42; foto: Academia do Psicólogo
Rui Iwersen
Reflexão sobre o racismo nº 16
Nossos antepassados lutaram por essa liberdade para que hoje estivéssemos livres
(…) Disputei uma eleição dentro dos mesmos critérios das outras candidatas e dos outros candidatos. Mas somente eu, em Joinville, fui ameaçada. Somente eu, em Santa Catarina, fui ameaçada. Isso é uma expressão do racismo. São grupos ou pessoas que ultrapassam os limites da intolerância.
O racismo nos adoece. E nos mata simbolicamente, nos excluindo dos espaços. Ou nos mata na prática. como a vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, o gaúcho João Alberto Silveira Freitas e tantos outros.
Depois das ameaças, minha rotina mudou. Minha vida mudou. Afinal, não posso ser alvo fácil de pessoas intolerantes. Mas não convivo com o medo. Não posso permitir que o medo me imobilize. O medo é algo que o opressor nos impõe como forma de dominar. E isso eu não permito.
Vivemos cuidando. E, num ato coletivo, sendo cuidadas. Mas sem medo. Porque o medo nos tira a liberdade. Nossos antepassados lutaram por essa liberdade para que hoje estivéssemos livres. (…)
Ana Lúcia Martins, vereadora eleita pelo PT em Joinville – SC, Sem medo dos racistas, revista Época nº 1169, 07.12.20, páginas 41 e 42; foto: Catraca Livre
Rui Martins Iwersen
Reflexão sobre o racismo nº 15
A cor da violência policial: a bala não erra o alvo
O racismo enterra corpos pretos todos os dias. É ele que também ensina ao policial que o alvo da sua bala tem cor. Sabemos que esta é apenas uma das tecnologias de morte empregadas pela máquina de moer negros que é o Estado. Pretos e pardos são vistos como excedentes e podem morrer, de acordo com o que aprendemos com a necropolítica,
para se fazer cumprir a política de branqueamento do Brasil.
Nossa sociedade está estruturada para que o racismo seja o motor da violência – como evidenciamos no nosso Anuário – e por isso a Rede de Observatórios da Segurança se compromete desde o seu lançamento a trazer para o debate a questão através da análise de dados. O debate da segurança pública precisa, antes de tudo, ser centrado em raça.
Os números apresentados neste relatório comprovam que o racismo mata. Na Bahia, praticamente todos os mortos em ações policiais são negros. O mesmo padrão se repete nos outros estados monitorados pela Rede de Observatórios da Segurança (CE, PE, RJ e SP). Os números que chocam foram coletados das secretarias
estaduais dos cinco estados que compõem a Rede e se referem ao ano de 2019. (…)
Fonte: Rede de observatórios da Segurança; foto: Preto no Branco
Reflexão sobre o racismo nº 14
Cresce o número de homicídios de negros e pardos
(…) Entre 2008 e 2018, o número de homicídios de negros e pardos cresceu 11,5% – enquanto o de não negros e pardos caiu 12%, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
No ano passado, 74,4% das 39.561 vítimas de homicídio no Brasil eram negros e pardos, percentual desproporcional quando se leva em conta a fatia desse grupo na população como um todo, que é de 56%. Quando o autor é um policial, o índice sobe para 79,1%. Isso significa que oito em cada dez mortos pela polícia em 2019 eram negros e pardos.
Quantas dessas mortes foram motivadas por racismo? Ninguém sabe dizer. Essa é uma das respostas que as forças de segurança e a Justiça devem aos brasileiros de todos os tons de pele.
Revista Época nº 1168, 30.11.20, A justiça tarda e ainda falha, pg. 29; foto: Sinpro-DF
Assim como eu, talvez outros demorem a perceber que teu nome, escrito em vermelho em teu comentário, é o link de teu site.
Aproveito esta autocrítica e estas reflexões para divulgar teu link e recomendar teu site (que eu visitei e gostei). Importantes e graves as revelações sobre a história e as estratégias da sociedade capitalista de consumo (tão nefasta para o meio ambiente) mostradas e documentadas no vídeo sobre “obsolescência programada”.
Continuo com a opinião de que deverias, sempre que possivel e conveniente, divulgar o endereço eletrônico de teu site, o que poderia facilitar o acesso dos interessados.
Oi Maduca.
No teu comentário a Gaianet tu não deste o nome e o endereço do teu site. Por favor, apresente para mim e para os leitores de GaiaNet o endereço eletrônico de teu blog. Seria bom e importante para nós visitarmos o teu site e lermos, vermos e aprendermos mais sobre design ecológico.
Obrigado pelo vínculo com GaiaNet.
Abraço.
Rui Iwersen, editor de GaiaNet
4 Comments to “ Reflexões ecológicas”
Olá Maduca.
Assim como eu, talvez outros demorem a perceber que teu nome, escrito em vermelho em teu comentário, é o link de teu site.
Aproveito esta autocrítica e estas reflexões para divulgar teu link e recomendar teu site (que eu visitei e gostei). Importantes e graves as revelações sobre a história e as estratégias da sociedade capitalista de consumo (tão nefasta para o meio ambiente) mostradas e documentadas no vídeo sobre “obsolescência programada”.
Continuo com a opinião de que deverias, sempre que possivel e conveniente, divulgar o endereço eletrônico de teu site, o que poderia facilitar o acesso dos interessados.
Abraço.
Rui
Oi. Visite o meu blog de design ecológico; já coloquei um
link para vocês em meio ambiente. Abraço. Maduca.
Oi Maduca.
No teu comentário a Gaianet tu não deste o nome e o endereço do teu site. Por favor, apresente para mim e para os leitores de GaiaNet o endereço eletrônico de teu blog. Seria bom e importante para nós visitarmos o teu site e lermos, vermos e aprendermos mais sobre design ecológico.
Obrigado pelo vínculo com GaiaNet.
Abraço.
Rui Iwersen, editor de GaiaNet
Olá Rui… Gostei muito do seu trabalho… E de como voce traz as informações… Parabéns!
Estou linkando este espaço no blogue 365 Atos… Um grande abraço.