Reflexões ecológicas
Série de GaiaNet nº 21
1501 – O Brasil depois de Cabral – nº 7
No domingo de Páscoa determinou o Capitão de ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu
Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão de ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu. Mandou a todos os capitães que se apresentassem nos batéis [barcos] e fossem com ele. E assim foi feito.
Mandou naquele ilhéu armar um esperável [toldo], e dentro dele um altar mui bem corregido. E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual foi dita pelo padre Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes, que todos eram ali. A qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção.
Ali era com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saiu de Belém, a qual esteve sempre levantada, da parte do Evangelho.
Pero Vaz de Caminha, A Carta, abril de 1500, Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2019, página 20; foto: Das Artes
Rui Iwersen, editor de GaiaNet
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Freud explica nº 60
A Guerra nº 24
Cada um dos combatentes vitoriosos voltará feliz para casa sem ser perturbado por pensamentos a respeito dos inimigos que matou
Não só a teoria da alma, a crença na imortalidade e uma poderosa raiz de culpa humana, mas também os primeiros mandamentos éticos surgiram diante do cadáver de um ente querido. O primeiro e mais significativo mandamento da consciência moral que despertava foi: Não matarás. Foi adquirido como uma reação contra a satisfação do ódio escondido por trás do luto pelo ente querido falecido e paulatinamente foi estendido ao estranho não amado e, finalmente, também ao inimigo.
Neste último caso, tal mandamento não é mais sentido pelas pessoas da cultura. Quando a luta selvagem desta guerra [1ª Guerra Mundial] encontrar sua conclusão, cada um dos combatentes vitoriosos voltará feliz para casa, para a esposa e os filhos, de pronto e sem ser perturbado por pensamentos a respeito dos inimigos que matou corpo a corpo ou com arma de longo alcance.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Nova Fronteira, RJ, 2021, páginas 45 e 46; foto: Globo, 1ª Guerra Mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud explica nº 59
A Guerra nº 23
Seria muito interessante estudar as mudanças na psicologia dos combatentes
Seria necessário fazer aqui uma divisão em dois grupos, separando aqueles que entregam a própria vida em combate e outros que permaneceram em casa e apenas esperam perder um de seus entes queridos para a morte por ferimento, doença ou infecção.
Seria muito interessante, certamente, estudar as mudanças na psicologia dos combatentes, mas sei muito pouco sobre isso. Precisamos nos ater ao segundo grupo, ao qual pertencemos.
Já disse que acredito que a perplexidade e a paralisia, que sofremos, de nossa capacidade de desempenho são, em grande parte, codeterminadas pelo fato de não termos sido capazes de manter nosso comportamento anterior em relação com a morte e ainda não termos encontrado um novo.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Nova Fronteira, RJ, 2021, página 48; foto: Mundo Educação – UOL, 1ª guerra mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Série de GaiaNet nº 21
1501 – O Brasil depois de Cabral – nº 6
O nativo acenava para a terra e de novo para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo
Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo. Isto tomávamos nós assim por assim o desejarmos.
Mas se ele queria dizer que levaria as contas e mais o colar, isto não o queríamos nós entender, porque não lho havíamos de dar. E depois tornou as contas a quem lhas dera.
Pero Vaz de Caminha, A Carta, abril de 1500, Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2019, página 14; foto: Portal do Bitcoin
Rui Iwersen, editor de GaiaNet
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Freud explica nº 58
A Guerra nº 22
Na guerra, o acúmulo de mortes põe fim à impressão de eventualidade
No reino da ficção, encontramos a pluralidade de vidas que nós precisamos. Morremos na identificação com um herói, mas sobrevivemos a ele e estamos prontos para morrer uma segunda vez com outro herói, igualmente ilesos.
É evidente que a guerra deve varrer esse tratamento convencional da morte. Esta não pode mais ser negada, temos de crer nela. As pessoas realmente morrem, não mais singularmente, mas em quantidade, com frequência dezenas de milhares em um dia.
Também não se trata mais de uma coincidência. É evidente que ainda pareça acidental se o projétil atinge um ou outro, mas esse outro pode ser facilmente atingido por uma segunda bala; o acúmulo põe fim à impressão de eventualidade. É evidente que a vida voltou a ser interessante, recuperou todo o seu conteúdo.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, página 39; foto: Conexão Escola SME, 1ª guerra mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Em Defesa da Ciência nº 30
Para o inglês Samuel Rowbotham, em 1849, o planeta seria uma espécie de pizza com o centro no Hemisfério Norte e a borda na Antártida
Já por volta de 240 a.C. Eratóstenes realizou experimento que forneceu a prova mais convincente do modelo esférico até então – as grandes navegações do século 16 o comprovaram, e a ciência moderna não deixou dúvida.
Mas, em 1849, o inglês Samuel Rowbotham reviveu a Terra plana com o que chamou de “astronomia zética”; o planeta seria uma espécie de pizza com o centro no Hemisfério Norte e a borda na Antártida.
Desde então, a ideia estava restrita a certos círculos, mas ganhou popularidade nos últimos anos. “Graças à facilidade de nos comunicarmos, à falta de educação científica e ao fundamentalismo religioso, a Terra plana renasceu”…
Galileu, Edição 317, dezembro de 2017, Pergunto a um terraplanista, página 40; foto: Brasil Escola – UOL
Rui Iwersen, médico, editor de GaiaNet
Série de GaiaNet nº 21
1501 – O Brasil depois de Cabral nº 4
Pero Vaz de Caminha descreve a terra e o povo que “achou”.
Andam nus, sem nenhuma cobertura; nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas
(…) e tomou dois daqueles homens da terra, mancebos e de bons corpos, que estavam numa almadia [embarcação rústica usada pelos indígenas]. Um deles trazia um arco e seis ou sete setas; mas de nada lhes serviram. Trouxe-os logo, já de noite, ao Capitão, em cuja nau foram recebidos com muito prazer e festa.
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto.
Pero Vaz de Caminha, A Carta, abril de 1500, Editora Vozes, Rio de Janeiro, 2019, páginas 10 e 11; foto: BBC
Rui Iwersen, editor de GaiaNet
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Freud explica nº 57
A Guerra nº 21
É um mistério por que os indivíduos dos povos se desprezam, se odeiam e se abominam uns aos outros
É com certeza um mistério por que os indivíduos dos povos se desprezam, se odeiam e se abominam propriamente uns aos outros, mesmo em tempos de paz, e cada nação à outra. Não sei o que dizer. Nesse caso, é como se todas as aquisições morais do indivíduo se extinguissem quando se toma em conjunto uma maioria ou mesmo milhões de pessoas, e permanecessem apenas as atitudes psíquicas mais primitivas, antigas e cruas.
Talvez apenas desenvolvimentos posteriores sejam capazes de mudar essas circunstâncias infelizes. Mas um pouco mais de veracidade e sinceridade de todos os lados, nas relações das pessoas umas com as outras e entre elas e aqueles que as governam, também poderia abrir o caminho para essa transformação.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, páginas 34 e 35; foto: Café História, 1ª guerra mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Em Defesa da Ciência nº 29
A concepção da Terra como um disco encoberto por uma abóboda de misteriosos objetos era unanimidade na Antiguidade
A concepção da Terra como um disco encoberto por uma abóboda de misteriosos objetos era unanimidade na Antiguidade. E, é compreensível: não havia ainda conhecimentos para fazer investigações científicas para além do que os olhos viam.
Foi só no século 6 a.C. que filósofos como Pitágoras propuseram o modelo esférico, motivados por relatos de navegadores e observações do céu. Três séculos mais tarde, constatando que as estrelas vistas no Egito não eram as mesmas de céus mais ao norte e que a sombra da Terra na Lua durante eclipses era esférica, Aristóteles reforçou que o nosso planeta é um globo.
Já por volta de 240 a.C. Eratóstenes realizou experimento que forneceu a prova mais convincente do modelo esférico até então – as grandes navegações do século 16 o comprovaram, e a ciência moderna não deixou dúvida.
Galileu, Edição 317, dezembro de 2017, Pergunto a um terraplanista, página 40; foto: Slide Mestre
Rui Iwersen, médico, editor de GaiaNet
Freud explica nº 56
A Guerra nº 20
Os guerreiros opõem-se a nós por seus estágios hoje ainda muito primitivos de organização, de formação de unidades superiores
O ofuscamento lógico que esta guerra com frequência cria, como que por magia, nos nossos melhores cidadãos é, portanto, um fenômeno secundário, uma consequência do impulso emocional, e, tomara, destinado a desaparecer com ela.
Se compreendermos dessa forma novamente nossos concidadãos que já haviam se tornado estranhos para nós, suportaremos muito mais facilmente a decepção que os grandes indivíduos da humanidade, os povos, nos causaram, pois só poderemos lhes fazer exigências muito mais modestas.
Talvez estes repitam o desenvolvimento do indivíduo, e opõem-se a nós por seus estágios hoje ainda muito primitivos de organização, de formação de unidades superiores.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, páginas 33 e 34; foto: Jornal Opção,1ª guerra mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Em Defesa da Ciência nº 28
As redes sociais alavancam o discurso anticientífico
Tudo isso levanta a questão: por que as pessoas estão duvidando da ciência?
(…) são as redes sociais que alavancam o discurso anticientífico. Cresce assim o sentimento de que ciência é mera opinião – e nada poderia estar mais equivocado. “A relação entre verdade e mentira ficou tão difícil de entender que a verdade científica passa a ser a única referência para descobrir o que é certo e o que não é.”
Para conter a pós-verdade, a ciência deveria ser aliada, não vilã. “Cientistas não são pró-isso ou aquilo, cientista é pró-conhecimento”, diz [o imunologista Jorge] Kalil. A garantia dessa postura se chama método científico, que exige que as hipóteses sejam testadas à exaustão. Só depois tornam-se verdades científicas – até que surja outra teoria que explique melhor o fenômeno.
Galileu, Edição 317, dezembro de 2017, Pergunto a um terraplanista, página 39; foto: Cofeci
Rui Iwersen, médico, editor de GaiaNet
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4 Comments to “ Reflexões ecológicas”
Olá Maduca.
Assim como eu, talvez outros demorem a perceber que teu nome, escrito em vermelho em teu comentário, é o link de teu site.
Aproveito esta autocrítica e estas reflexões para divulgar teu link e recomendar teu site (que eu visitei e gostei). Importantes e graves as revelações sobre a história e as estratégias da sociedade capitalista de consumo (tão nefasta para o meio ambiente) mostradas e documentadas no vídeo sobre “obsolescência programada”.
Continuo com a opinião de que deverias, sempre que possivel e conveniente, divulgar o endereço eletrônico de teu site, o que poderia facilitar o acesso dos interessados.
Abraço.
Rui
Oi. Visite o meu blog de design ecológico; já coloquei um
link para vocês em meio ambiente. Abraço. Maduca.
Oi Maduca.
No teu comentário a Gaianet tu não deste o nome e o endereço do teu site. Por favor, apresente para mim e para os leitores de GaiaNet o endereço eletrônico de teu blog. Seria bom e importante para nós visitarmos o teu site e lermos, vermos e aprendermos mais sobre design ecológico.
Obrigado pelo vínculo com GaiaNet.
Abraço.
Rui Iwersen, editor de GaiaNet
Olá Rui… Gostei muito do seu trabalho… E de como voce traz as informações… Parabéns!
Estou linkando este espaço no blogue 365 Atos… Um grande abraço.