Saúde mental e meio ambiente
Freud Explica nº 54
A Guerra nº 18
Duas coisas nesta guerra despertaram nossa desilusão: a pouca moralidade dos Estados e a brutalidade na conduta de indivíduos
As ilusões nos são recomendadas pelo fato de nos pouparem sentimentos de desprazer e nos permitirem, em seu lugar, gozar de satisfação. Temos, então, de aceitar sem reclamações que, em algum momento, elas se chocam com uma parte da realidade na qual se despedaçam.
Duas coisas nesta guerra despertaram nossa desilusão: a pouca moralidade dos Estados quanto ao exterior, embora se comportem internamente como guardiães das normas morais, e a brutalidade na conduta de indivíduos que, como participantes da mais elevada cultura humana, não se acreditaria serem capazes de fazer algo semelhante.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, página 22; foto: UFMG (1ª guerra mundial)
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Mensagem quixotesca nº 5
Mensagem ao Presidente da República Federativa do Brasil
Reedição desta mensagem às vésperas da sua despedida melancólica de Brasília, por não seguir os conselhos de Don Quixote.
Digníssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil
Com humildade me dirijo novamente a Vossa Excelência com o objetivo único de Vos ajudar a melhor exercer Vosso poder sobre Vosso país e sobre Vosso povo. Com este objetivo dou-vos um novo conselho: Não fortaleça o ódio entre Vossos súditos! Não divida o Vosso povo! Una o Vosso povo! Como tenho visto desde o século XVII, ódio no povo significa ódio entre o povo; divide os súditos e destrói a tão almejada e desejada paz.
Vós, com Vossa vasta cultura de cavalaria, certamente já lestes um pouco de minha história contada por um tal Miguel de Cervantes, um de meus conterrâneos contemporâneos, que conhecia o verdadeiro valor dos cavaleiros andantes. Vossa excelência sabe, portanto, quem Vos fala e com quem Vós falais!
Vossa Excelência não é só presidente da bolha olavista, evangélica, pecuarista ou da bolha da bala. Vossa Excelência é agora Presidente da República Federativa do Brasil. Vossa Excelência é agora presidente de todos os brasileiros, e não somente dos que Vos elegeram ou dos que Vos apoiam.
Em minhas andanças de cavaleiro pelo mundo já vi muitas tribos, reinos e países colapsarem em guerras civis ou em guerras religiosas por sua divisão. Não deixe isso acontecer com Vosso povo! A paz é possível e desejável. A paz entre seu povo deve ser o objetivo de um grande estadista, principalmente de um presidente que se diz terrivelmente cristão, uma religião que prega o amor ao próximo como a si mesmo. Eu e o Freud achamos isso impossível, mas… Vós, que acreditais que isso é possível, lute por isso! Para ter paz em Vosso reino e em Vosso reinado, busque o apoio de todos! Apoie todos! Afinal, todos são Vossos súditos, e Vós sois a autoridade máxima de todos
Ah! E não permitais que outros, em Vosso nome, dividam o Vosso povo! Mesmo contra Vossa natureza, às vezes sejais rude! Não vai ser difícil! Afinal, Vossa Excelência foi treinado para matar! É a velha dialética cultura/natureza!
O Sancho me pediu para dizer a Vossa Excelência que quem divide para reinar não reina um reino, reina sobre um reino.
Rui Iwersen, sob licença póstuma imaginária de Miguel de Cervantes Zaavedra.
Matéria editada originalmente nesta página em 20 de julho de 2019 e reeditada em 22 de setembro de 2022.
Freud Explica nº 53
A Guerra nº 17
A guerra rompe todos os laços de comunidade entre os povos em luta e ameaça deixar uma amargura por muito tempo
A guerra na qual não queríamos acreditar eclodiu e trouxe a desilusão. Não é apenas mais sangrenta e com mais perdas que qualquer uma das guerras anteriores, como consequência das armas poderosamente aperfeiçoadas de ataque e defesa, mas também pelo menos tão cruel, amargurada e implacável quanto qualquer outra anterior.
Ela descarta todas as restrições com as quais as pessoas se comprometeram em tempos de paz, o que tem sido chamado de Direito Internacional, não reconhece as prerrogativas do ferido e do médico, a distinção entre a parte pacífica e a combatente da população, tampouco as reinvindicações de propriedade privada.
Com uma fúria cega, derruba tudo o que está no caminho, como se não devesse haver futuro nem paz entre os seres humanos depois dela. Rompe todos os laços de comunidade entre os povos em luta e ameaça deixar uma amargura que tornará impossível reconectá-los por muito tempo.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, página 19; foto: Fatos Militares (1ª guerra mundial)
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud Explica nº 52
A Guerra nº 16
Dos europeus se esperava que soubessem resolver por outros caminhos divergências e conflitos de interesses
Das grandes nações da raça branca que dominam o mundo, às quais coube a liderança do gênero humano, conhecidas por se ocuparem com o cuidado em relação aos interesses mundiais, e cujas criações são os progressos técnicos no domínio da natureza assim como os valores culturais artísticos e científicos; desses povos se esperava que soubessem resolver por outros caminhos divergências e conflitos de interesses.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, página 15; foto: Conhecimento Científico (1ª guerra mundial)
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud Explica nº 51
A Guerra nº 15
Nunca um evento destruiu tanto dos preciosos bens comuns da humanidade
Enredados pelo vórtice deste tempo de guerra, informados de modo unilateral, sem a distância das grandes mudanças que já ocorreram ou estão começando a ocorrer e sem qualquer previsão do futuro que se molda, ficamos confusos com o significado das impressões que se impõem a nós e o valor dos julgamentos que formamos.
Quer nos parecer que nunca um evento destruiu tanto dos preciosos bens comuns da humanidade, confundiu tantas das mais esclarecidas inteligências, degradou tão fundamentalmente o que havia de elevado. Até mesmo a ciência perdeu sua imparcialidade desapaixonada; seus servos profundamente amargurados procuram tirar-lhes as armas para contribuir na luta contra o inimigo.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, página 13; foto: Jornal Opção (1ª guerra mundial)
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud Explica nº 50
A Guerra nº 14
Tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra
Último número desta série baseado no livro Por que a guerra? de Freud e Einstein. Os próximos números da série serão baseados em outros livros psico-sociais de Freud em que ele aborda o tema da guerra.
(…) nós os pacifistas, temos uma intolerância constitucional à guerra, digamos, uma idiossincrasia exacerbada no mais alto grau. Realmente, parece que o rebaixamento dos padrões estéticos na guerra desempenha um papel dificilmente menor em nossa revolta do que as suas crueldades.
E quanto tempo teremos que esperar até que o restante da humanidade também se torne pacifista? Não há como dizê-lo. Mas pode não ser utópico esperar que esses dois fatores, a atitude cultural e o justificado medo das consequências de uma guerra futura, venham a resultar, dentro de um tempo previsível, em que se ponha um término à ameaça de guerra.
Por quais caminhos ou por que atalhos isto se realizará, não podemos adivinhar. Mas uma coisa podemos dizer: tudo o que estimula o crescimento da civilização trabalha simultaneamente contra a guerra.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 258 e 259 (pg. 16 e 17 do artigo original). Foto: UOL Notícias (guerra russa na Ucrânia; Kiev).
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Dia Mundial da Saúde mental, Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher e Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Dia da Declaração Universal dos Direitos Humanos
Dia Mundial da Saúde Mental
Dia Nacional de Luta Contra a Violência à Mulher
O dia 10 de outubro foi escolhido para celebrar esta data porque foi em 10 de outubro de 1980 que um movimento de mulheres se reuniu nas escadarias do Teatro Municipal, em São Paulo, para iniciar um protesto contra o aumento de crimes de gênero no Brasil (hoje conhecidos como feminicídio, quando uma mulher é morta apenas por ser mulher).
Fonte: Calendário Brasil
Para queixas, disque 180
Fonte: https://gaianet.com/calendario-ecologico/
Freud Explica nº 49
A Guerra nº 13
A guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização
As modificações psíquicas que acompanham o processo de civilização são notórias e inequívocas. Consistem num progressivo deslocamento dos fins instintuais e numa limitação imposta aos impulsos instintuais. Sensações que para os nossos ancestrais eram agradáveis, tornaram-se indiferentes ou até mesmo intoleráveis para nós; há motivos orgânicos para as modificações em nossos ideais éticos e estéticos.
Dentre as características psicológicas da civilização, duas aparecem como a mais importantes: o fortalecimento do intelecto, que está começando a governar a vida instintual, e a internalização dos impulsos agressivos com todas as suas consequentes vantagens e perigos.
Ora, a guerra se constitui na mais óbvia oposição à atitude psíquica que nos foi incutida pelo processo de civilização, e por esse motivo não podemos evitar de nos rebelar contra ela; simplesmente não podemos mais nos conformar com ela. Isto não é apenas um repúdio intelectual e emocional; nós os pacifistas, temos uma intolerância constitucional à guerra, digamos, uma idiossincrasia exacerbada no mais alto grau. Realmente, parece que o rebaixamento dos padrões estéticos na guerra desempenha um papel dificilmente menor em nossa revolta do que as suas crueldades.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, página 258 (pg. 16 do artigo original). Foto: Folha – UOL (guerra russa na Ucrânia).
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Mensagem quixotesca nº 5
Mensagem ao Presidente da República Federativa do Brasil
Digníssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil
Com humildade me dirijo novamente a Vossa Excelência com o objetivo único de Vos ajudar a melhor exercer Vosso poder sobre Vosso país e sobre Vosso povo. Com este objetivo dou-vos um novo conselho: Não fortaleça o ódio entre Vossos súditos! Não divida o Vosso povo! Una o Vosso povo! Como tenho visto desde o século XVII, ódio no povo significa ódio entre o povo; divide os súditos e destrói a tão almejada e desejada paz.
Vós, com Vossa vasta cultura de cavalaria, certamente já lestes um pouco de minha história contada por um tal Miguel de Cervantes, um de meus conterrâneos contemporâneos, que conhecia o verdadeiro valor dos cavaleiros andantes. Vossa excelência sabe, portanto, quem Vos fala e com quem Vós falais!
Vossa Excelência não é só presidente da bolha olavista, evangélica, pecuarista ou da bolha da bala. Vossa Excelência é agora Presidente da República Federativa do Brasil. Vossa Excelência é agora presidente de todos os brasileiros, e não somente dos que Vos elegeram ou dos que Vos apoiam.
Em minhas andanças de cavaleiro pelo mundo já vi muitas tribos, reinos e países colapsarem em guerras civis ou em guerras religiosas por sua divisão. Não deixe isso acontecer com Vosso povo! A paz é possível e desejável. A paz entre seu povo deve ser o objetivo de um grande estadista, principalmente de um presidente que se diz terrivelmente cristão, uma religião que prega o amor ao próximo como a si mesmo. Eu e o Freud achamos isso impossível, mas… Vós, que acreditais que isso é possível, lute por isso! Para ter paz em Vosso reino e em Vosso reinado, busque o apoio de todos! Apoie todos! Afinal, todos são Vossos súditos, e Vós sois a autoridade máxima de todos
Ah! E não permitais que outros, em Vosso nome, dividam o Vosso povo! Mesmo contra Vossa natureza, às vezes sejais rude! Não vai ser difícil! Afinal, Vossa Excelência foi treinado para matar! É a velha dialética cultura/natureza!
O Sancho me pediu para dizer a Vossa Excelência que quem divide para reinar não reina um reino, reina sobre um reino.
Rui Iwersen, sob licença póstuma imaginária de Miguel de Cervantes Zaavedra.
Matéria editada originalmente em 20 de julho de 2019
Freud Explica nº 48
A Guerra nº 12
Uma guerra futura poderia envolver o extermínio de um dos antagonistas ou de ambos
Outras razões mais [para sermos pacifistas] poderiam ser apresentadas, como a de que, na sua forma atual, a guerra já não é mais uma oportunidade de atingir os velhos ideais de heroísmo, e a de que, devido ao aperfeiçoamento dos instrumentos de destruição, uma guerra futura poderia envolver o extermínio de um dos antagonistas ou, quem sabe, de ambos. Tudo isso é verdadeiro, e tão incontestavelmente verdadeiro, que não se pode senão sentir perplexidade ante o fato de a guerra ainda não ter sido unanimemente repudiada.
Sem dúvida, é possível o debate em torno de alguns desses pontos. Pode-se indagar se uma comunidade não deveria ter o direito de dispor da vida dos indivíduos; nem toda guerra é passível de condenação em igual medida; de vez que existem países e nações que estão preparados para a destruição impiedosa de outros, esses outros devem ser armados para a guerra. Mas não me deterei em nenhum desses aspectos; não constituem aquilo que o senhor deseja examinar comigo, e tenho em mente algo diverso.
Penso que a principal razão por que nos rebelamos contra a guerra é que não podemos fazer outra coisa. Somos pacifistas porque somos obrigados a sê-lo, por motivos orgânicos, básicos. E sendo assim, temos dificuldades em encontrar argumentos que justifiquem nossa atitude.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, página 257 (pg. 15 do artigo original). Foto: BBC (guerra na Ucrânia)
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud Explica nº 47
A Guerra nº 11
Por que nos revoltamos contra a guerra?
Por que o senhor [Albert Einstein], eu [Sigmund Freud] e tantas outras pessoas nos revoltamos tão violentamente contra a guerra? Por que não aceitamos como mais uma das calamidades da vida?
Afinal, parece ser uma coisa muito natural, parece ter uma base biológica e ser dificilmente evitável na prática. Não há motivo para se surpreender com o fato de eu levantar esta questão. Para o propósito de uma investigação como esta, poder-se-ia, talvez, permitir-se usar uma máscara de suposto alheamento.
A resposta à minha pergunta será a de que reagimos à guerra dessa maneira, porque toda pessoa tem o direito à sua própria vida, porque a guerra põe um término a vidas plenas de esperanças, porque conduz os homens individualmente a situações humilhantes, porque os compele, contra a sua vontade, a matar outros homens e porque destrói objetos materiais preciosos, produzidos pelo trabalho da humanidade.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 256 e 257 (pg. 15 do artigo original). Foto: CNN Brasil
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud Explica nº 46
A Guerra nº 10
Tudo o que favorece o estreitamento dos vínculos emocionais entre os homens deve atuar contra a guerra
Nossa teoria mitológica dos instintos facilita-nos encontrar a formula para métodos indiretos de combater a guerra. Se o desejo de aderir à guerra é um efeito do instinto destrutivo, a recomendação mais evidente será contrapor-lhe o seu antagonista, Eros. Tudo o que favorece o estreitamento dos vínculos emocionais entre os homens deve atuar contra a guerra. (…)
A situação ideal, naturalmente, seria a comunidade humana que tivesse subordinado sua vida instintual ao domínio da razão. Nada mais poderia unir os homens de forma tão completa e firme, ainda que entre eles não houvesse vínculos emocionais.
Sigmund Freud
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 255 e 256 (pg. 14 do artigo original). Foto: CNN Brasil, Ucrânia
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud Explica nº 45
A Guerra nº 9
Quando os seres humanos são incitados à guerra há certamente entre eles o desejo de agressão e destruição
De forma que, quando os seres humanos são incitados à guerra, podem ter toda uma gama de motivos para se deixarem levar (…) Entre eles está certamente o desejo de agressão e destruição: as incontáveis crueldades que encontramos na história e em nossa vida de todos os dias atestam a sua existência e sua força.
A satisfação desses impulsos destrutivos naturalmente é facilitada por sua mistura com outros motivos de natureza erótica ou idealista. Quando lemos sobre as atrocidades do passado, amiúde é como se os motivos idealistas servissem apenas de escusa para os desejos destrutivos; e, às vezes – por exemplo, no caso das crueldades da Inquisição – é como se os motivos idealistas tivessem assomado a um primeiro plano na consciência, enquanto os destrutivos lhes emprestassem um reforço inconsciente. Ambos podem ser verdadeiros.
Sigmund Freud
Einstein e Freud; Por que a Guerra?; 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud; Imago Editora; Rio de Janeiro; 1974; página 253 (pg. 12 no artigo original); foto: DW – 4º mês de guerra na Ucrânia
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud Explica nº 44
A Guerra nº 8
Os resultados das guerras de conquista são geralmente de curta duração
Desse modo, as conquistas dos romanos deram aos países próximos ao Mediterrâneo a inestimável pax romana, e a ambição dos reis franceses de ampliar os seus domínios criou uma França pacificamente unida e florescente. Por paradoxal que possa parecer, deve-se admitir que a guerra poderia ser um meio nada inadequado de estabelecer o reino ansiosamente desejado de paz ‘perene’, pois está em condições de criar as grandes unidades dentro das quais um poderoso governo central torna impossíveis outras guerras.
Contudo, ela falha quanto a esse propósito, pois os resultados da conquista são geralmente de curta duração: as unidades recentemente criadas esfacelam-se novamente, no mais das vezes devido a uma falta de coesão entre as partes que foram unidas pela violência.
Ademais, até hoje as unificações criadas pela conquista, embora de extensão considerável, foram apenas parciais, e os conflitos entre elas ensejaram, mais do que nunca, soluções violentas.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, página 250 (pg. 8 no original); foto: Bloomberg Linea – 100 dias de guerra na Ucrânia.
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud Explica nº 43
A Guerra nº 7
É impossível estabelecer qualquer julgamento geral das guerras de conquista
Guerras dessa espécie terminam ou pelo saque ou pelo completo aniquilamento e conquista de uma das partes. É impossível estabelecer qualquer julgamento geral das guerras de conquista. Algumas, como as empreendidas pelos mongóis e pelos turcos, não trouxeram senão malefícios.
Outras, pelo contrário, contribuíram para a transformação da violência em lei, ao estabelecerem unidades maiores, dentro das quais o uso da violência se tornou impossível e nas quais um novo sistema de leis solucionou os conflitos. Desse modo, as conquistas dos romanos deram aos países próximos ao Mediterrâneo a inestimável pax romana, e a ambição dos reis franceses de ampliar os seus domínios criou uma França pacificamente unida e florescente.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, páginas 249 e 250 (7 e 8 no original); foto: Pragmatismo Político, invasão da Ucrânia pela Rússia.
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud explica nº 42
A Guerra nº 6
A história humana revela uma série infindável de conflitos
Vemos, pois, que a solução violenta de conflitos de interesses não é evitada sequer dentro de uma comunidade. As necessidades cotidianas e os interesses comuns, inevitáveis ali onde pessoas vivem juntas num lugar, tendem, contudo, a proporcionar a essas lutas uma conclusão rápida, e, sob tais condições, existe uma crescente probabilidade de se encontrar uma solução pacífica.
Outrossim, um rápido olhar pela história da raça humana revela uma série infindável de conflitos entre uma comunidade e outra, ou diversas outras, entre unidades maiores e menores – entre cidades, províncias, raças, nações, impérios -, que quase sempre se formaram pela força das armas. Guerras dessa espécie terminam ou pelo saque ou pelo completo aniquilamento e conquista de uma das partes.
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, página 249 (pg. 7 no original); foto: Agência Brasil – EBC, Guerra russa na Ucrânia.
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud Explica nº 41
A Guerra nº 5
O Instinto de morte torna-se instinto destrutivo quando é dirigido para fora
A pedido de Einstein e da Liga das Nações (a atual ONU) Freud explica a guerra.
O Instinto de morte torna-se instinto destrutivo quando, com o auxilio de órgãos especiais, é dirigido para fora, para objetos. O organismo preserva sua própria vida, por assim dizer, destruindo uma vida alheia.
Uma parte do instinto de morte, contudo, continua atuante dentro do organismo, e temos procurado atribuir numerosos fenômenos normais e patológicos a essa internalização do instinto de destruição. Foi-nos até mesmo imputada a culpa pela heresia de atribuir a origem da consciência a esse desvio da agressividade para dentro. O senhor perceberá que não é irrelevante se esse processo vai longe demais: é positivamente insano.
Por outro lado, se essas forças se voltam para a destruição no mundo externo, o organismo se aliviará e o efeito deve ser benéfico [para o individuo, ou melhor, para o ego do individuo, como diria Freud].
Einstein e Freud, Por que a Guerra?, 1932-1933; Edição Standard Brasileira das Obras de Freud, Imago Editora, Rio de Janeiro, 1974, página 254 (12 no artigo original); foto: Correio Braziliense, Ucrânia.
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Daqui há 20 anos o mundo vai ser profundamente diferente
Daqui há 20 anos, acredito que o mundo vai ser profundamente diferente, por vários motivos. As mudanças climáticas, por exemplo, já estão afetando de forma muito séria o planeta como um todo; a população está crescendo e temos de pensar em como alimentar e gerar energia para todos.
Tem também a questão da inteligência artificial e do mercado de trabalho: nós vemos uma automação cada vez maior das linhas de produção.
Como consequência, certas profissões podem deixar de existir, porque esse processo vai acontecer em um ritmo tão rápido que não vai dar tempo de treinar as pessoas para novas funções. E como vamos lidar com esse cenário? Todas essas questões me preocupam.
Marcelo Gleiser, Nenhuma teoria criada pelo homem é perfeita, Revista Galileu, Edição 337, agosto de 2019, página 55; foto: Alkasoft
Rui Iwersen, médico psiquiatra
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