Saúde mental
Reflexões sobre o Racismo nº 2
Somos todos um só
Enquanto aqui [no Brasil] você tem total liberdade de definir qual é sua raça, lá [nos Estados Unidos] é o recenseador quem identifica o cidadão entre nada menos do que sete grupos raciais.
Mas, se a questão já tinha implicações políticas, econômicas e culturais, ficou ainda mais difícil há poucos dias com a publicação de um amplo e meticuloso trabalho científico que chegou a uma conclusão taxativa: não existem raças na espécie humana.
Seja Racista Se For Capaz – somos todos um só, Isto É, nº 1520, 18 de novembro de 1998, páginas 129 e 130; foto: Educafro
Rui Iwersen
Matéria editada originalmente em GaiaNet em 9 de novembro de 2015.
Freud explica nº 66
A Guerra nº 30
A guerra favoreceu de modo muito particular os lapsos de leitura
Acho que a guerra, que trouxe a todos certas preocupações fixas e obsedantes, favoreceu de modo muito particular os lapsos de leitura. Tive a ocasião de constatar isso numerosas vezes, mas infelizmente guardei na memória apenas algumas poucas, dentre tantas observações que fiz.
Um dia, ao abrir um jornal, da tarde ou da noite, encontro nele, impresso em caracteres grandes, a seguinte manchete: “A paz de Görz”. Mas não, a manchete anunciava apenas: “Os inimigos diante de Görz (Die FONDE vor Görz, e não der Friede von Görz).
A quem tinha dois filhos combatendo no front era permitido cometer um lapso desse tipo.
Sigmund Freud, Sobre a psicopatologia da vida cotidiana, Capítulo VI – Lapsos de leitura e lapsos de escrita, Editora Escala, página 122; foto: El Pais
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Por enquanto, 30º e último artigo da série “Freud explica a guerra”. Leia os outros artigos desta série nas páginas Saúde mental e Reflexões ecológicas.
Reflexões sobre o Racismo nº 3
Seja Racista Se For Capaz
Para chegar à conclusão de que ‘não existem raças na espécie humana’, uma equipe de cinco cientistas estudou e comparou mais de oito mil amostras genéticas colhidas aleatoriamente de pessoas de todo mundo.
Segundo Alan Templeton, biólogo americano que dirigiu a pesquisa, diferentemente de outras espécies de mamíferos, não há raças entre os humanos porque “as diferenças genéticas entre grupos das mais distintas etnias são insignificantes”.
Seja Racista Se For Capaz – somos todos um só, Isto É, nº 1520, 18 de novembro de 1998, página 130
Rui Iwersen
Matéria editada originalmente em GaiaNet em 27 de novembro de 2015, e reeditada devido aos atos racistas no futebol.
Freud explica nº 65
A Guerra nº 29
Esse esquecimento de nomes era certamente a expressão compreensível de hostilidade
Quando, em 1915, foi deflagrada a guerra com a Itália, eu pude verificar em mim mesmo como grande quantidade de nomes de localidades italianas, que me eram muito familiares, desapareceram de minha memória.
Como tantos outros alemães, eu me acostumara a passar uma parte de minhas férias em solo italiano, e tinha certeza de que esse esquecimento maciço de nomes era certamente a expressão compreensível de uma hostilidade com relação à Itália, hostilidade que, entre nós alemães, havia substituído a predileção de outros tempos.
Sigmund Freud, Sobre a psicopatologia da vida cotidiana, Capítulo III – Esquecimento de nomes e sequência de palavras, Editora Escala, página 40; foto: Exame
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud explica nº 64
A Guerra nº 28
A terrível guerra recentemente terminada deu origem a um grande número de “neuroses traumáticas”
Após graves abalos mecânicos, colisões ferroviárias e outros acidentes associados a um perigo mortal, ocorre um estado que já foi descrito há tempos cujo nome ficou sendo “neurose traumática”.
A terrível guerra recentemente terminada [em 1918] deu origem a um grande número dessas doenças e ao menos pôs termo à tentação de atribuí-las a um dano orgânico do sistema nervoso pela ação de uma força mecânica.
Sigmund Freud, Além do Princípio do Prazer, 1920, Nova Fronteira, RJ, 2021, página 62 [1ª frase do II capítulo; 8ª página do livro]; foto: Gestão Educacional
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Reflexão sobre o racismo nº 4
O histórico racismo no Brasil
Devido às recentes manifestações de racismo em estádios de futebol espanhóis, reedito alguns artigos desta série
Uma família de brasileiro brancos e suas escravas domésticas, Império do Brasil, 1860
Racismo consiste no preconceito e na discriminação com base em percepções sociais baseadas em diferenças biológicas entre os povos. Muitas vezes toma a forma de ações sociais, práticas ou crenças, ou sistemas políticos que consideram que diferentes raças devem ser classificadas como inerentemente superiores ou inferiores com base em características, habilidades ou qualidades comuns herdadas. Também pode afirmar que os membros de diferentes raças devem ser tratados de forma distinta. (…)
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre
Rui Iwersen
Matéria edita originalmente nesta página em 01 de julho de 2016
Freud explica nº 62
A Guerra nº 26
Enquanto as condições de existência dos povos forem tão diferentes e as repulsões entre eles tão violentas, guerras hão de existir
Resumamos, então: nosso inconsciente é tão inacessível à ideia da própria morte, tão mortífero diante de estranhos, tão ambivalente para com o ente querido quanto o humano dos tempos primevos. Mas o quanto nos afastamos deste estado primevo em nossa atitude cultural-convencional em relação com a morte!
É fácil dizer como a guerra interfere nessa dicotomia. Ela nos despoja das camadas posteriores da cultura e permite que o humano primevo reapareça em nós. Força-nos novamente a sermos heróis que não podem acreditar em nossa morte; aponta-nos estranhos como inimigos, cuja morte se deveria causar ou desejar causar; nos aconselha a desconsiderar a morte de entes queridos.
A guerra, porém, não pode ser eliminada; enquanto as condições de existência dos povos forem tão diferentes e as repulsões entre eles tão violentas, guerras hão de existir.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Nova Fronteira, RJ, 2021, páginas 52 e 53 (última página do livro); foto: Significados
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud explica nº 61
A Guerra nº 25
O selvagem guerreiro ainda teme a vingança espiritual dos guerreiros inimigos abatidos
É digno de nota que os povos primitivos que ainda vivem na Terra, e certamente estão mais próximos do humano primevo do que nós, se comportam de modo diferente neste ponto [sentimento de culpa] – ou se comportavam enquanto ainda não tinham experienciado a influência de nossa cultura.
O selvagem – australiano, bosquimano, habitantes da Terra do Fogo – não é de forma alguma um assassino impenitente; quando retorna da guerra como vencedor, não tem permissão para entrar em sua aldeia ou tocar na esposa até que tenha expiado seus assassinatos de guerra por meio de penitências com frequência longas e árduas.
É claro que a explicação vem da superstição; o selvagem ainda teme a vingança espiritual dos abatidos. Mas os espíritos dos abatidos nada mais são do que a expressão do peso de sua consciência moral por sua culpa de sangue; por trás dessa superstição, há um tanto de sensibilidade ética que se perdeu para nós, pessoas da cultura.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Nova Fronteira, RJ, 2021, página 46; foto: Jornal da USP
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud explica nº 60
A Guerra nº 24
Cada um dos combatentes vitoriosos voltará feliz para casa sem ser perturbado por pensamentos a respeito dos inimigos que matou
Não só a teoria da alma, a crença na imortalidade e uma poderosa raiz de culpa humana, mas também os primeiros mandamentos éticos surgiram diante do cadáver de um ente querido. O primeiro e mais significativo mandamento da consciência moral que despertava foi: Não matarás. Foi adquirido como uma reação contra a satisfação do ódio escondido por trás do luto pelo ente querido falecido e paulatinamente foi estendido ao estranho não amado e, finalmente, também ao inimigo.
Neste último caso, tal mandamento não é mais sentido pelas pessoas da cultura. Quando a luta selvagem desta guerra [1ª Guerra Mundial] encontrar sua conclusão, cada um dos combatentes vitoriosos voltará feliz para casa, para a esposa e os filhos, de pronto e sem ser perturbado por pensamentos a respeito dos inimigos que matou corpo a corpo ou com arma de longo alcance.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Nova Fronteira, RJ, 2021, páginas 45 e 46; foto: Globo, 1ª Guerra Mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud explica nº 59
A Guerra nº 23
Seria muito interessante estudar as mudanças na psicologia dos combatentes
Seria necessário fazer aqui uma divisão em dois grupos, separando aqueles que entregam a própria vida em combate e outros que permaneceram em casa e apenas esperam perder um de seus entes queridos para a morte por ferimento, doença ou infecção.
Seria muito interessante, certamente, estudar as mudanças na psicologia dos combatentes, mas sei muito pouco sobre isso. Precisamos nos ater ao segundo grupo, ao qual pertencemos.
Já disse que acredito que a perplexidade e a paralisia, que sofremos, de nossa capacidade de desempenho são, em grande parte, codeterminadas pelo fato de não termos sido capazes de manter nosso comportamento anterior em relação com a morte e ainda não termos encontrado um novo.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Nova Fronteira, RJ, 2021, página 48; foto: Mundo Educação – UOL, 1ª guerra mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud explica nº 58
A Guerra nº 22
Na guerra, o acúmulo de mortes põe fim à impressão de eventualidade
No reino da ficção, encontramos a pluralidade de vidas que nós precisamos. Morremos na identificação com um herói, mas sobrevivemos a ele e estamos prontos para morrer uma segunda vez com outro herói, igualmente ilesos.
É evidente que a guerra deve varrer esse tratamento convencional da morte. Esta não pode mais ser negada, temos de crer nela. As pessoas realmente morrem, não mais singularmente, mas em quantidade, com frequência dezenas de milhares em um dia.
Também não se trata mais de uma coincidência. É evidente que ainda pareça acidental se o projétil atinge um ou outro, mas esse outro pode ser facilmente atingido por uma segunda bala; o acúmulo põe fim à impressão de eventualidade.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, página 39; foto: Conexão Escola SME, 1ª guerra mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Em Defesa da Ciência nº 30
Para o inglês Samuel Rowbotham, em 1849, o planeta seria uma espécie de pizza com o centro no Hemisfério Norte e a borda na Antártida
Já por volta de 240 a.C. Eratóstenes realizou experimento que forneceu a prova mais convincente do modelo esférico até então – as grandes navegações do século 16 o comprovaram, e a ciência moderna não deixou dúvida.
Mas, em 1849, o inglês Samuel Rowbotham reviveu a Terra plana com o que chamou de “astronomia zética”; o planeta seria uma espécie de pizza com o centro no Hemisfério Norte e a borda na Antártida.
Desde então, a ideia estava restrita a certos círculos, mas ganhou popularidade nos últimos anos. “Graças à facilidade de nos comunicarmos, à falta de educação científica e ao fundamentalismo religioso, a Terra plana renasceu”…
Galileu, Edição 317, dezembro de 2017, Pergunto a um terraplanista, página 40; foto: Brasil Escola – UOL
Rui Iwersen, médico, editor de GaiaNet
Freud explica nº 57
A Guerra nº 21
É um mistério por que os indivíduos dos povos se desprezam, se odeiam e se abominam uns aos outros
É com certeza um mistério por que os indivíduos dos povos se desprezam, se odeiam e se abominam propriamente uns aos outros, mesmo em tempos de paz, e cada nação à outra. Não sei o que dizer. Nesse caso, é como se todas as aquisições morais do indivíduo se extinguissem quando se toma em conjunto uma maioria ou mesmo milhões de pessoas, e permanecessem apenas as atitudes psíquicas mais primitivas, antigas e cruas.
Talvez apenas desenvolvimentos posteriores sejam capazes de mudar essas circunstâncias infelizes. Mas um pouco mais de veracidade e sinceridade de todos os lados, nas relações das pessoas umas com as outras e entre elas e aqueles que as governam, também poderia abrir o caminho para essa transformação.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, páginas 34 e 35; foto: Café História, 1ª guerra mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Freud explica nº 56
A Guerra nº 20
Os guerreiros opõem-se a nós por seus estágios hoje ainda muito primitivos de organização, de formação de unidades superiores
O ofuscamento lógico que esta guerra com frequência cria, como que por magia, nos nossos melhores cidadãos é, portanto, um fenômeno secundário, uma consequência do impulso emocional, e, tomara, destinado a desaparecer com ela.
Se compreendermos dessa forma novamente nossos concidadãos que já haviam se tornado estranhos para nós, suportaremos muito mais facilmente a decepção que os grandes indivíduos da humanidade, os povos, nos causaram, pois só poderemos lhes fazer exigências muito mais modestas.
Talvez estes repitam o desenvolvimento do indivíduo, e opõem-se a nós por seus estágios hoje ainda muito primitivos de organização, de formação de unidades superiores.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, páginas 33 e 34; foto: Jornal Opção,1ª guerra mundial
Rui Iwersen, médico psiquiatra
Em Defesa da Ciência nº 28
As redes sociais alavancam o discurso anticientífico
Tudo isso levanta uma questão: por que as pessoas estão duvidando da ciência?
(…) são as redes sociais que alavancam o discurso anticientífico. Cresce assim o sentimento de que ciência é mera opinião – e nada poderia estar mais equivocado. “A relação entre verdade e mentira ficou tão difícil de entender que a verdade científica passa a ser a única referência para descobrir o que é certo e o que não é.”
Para conter a pós-verdade, a ciência deveria ser aliada, não vilã. “Cientistas não são pró-isso ou aquilo, cientista é pró-conhecimento”, diz [o imunologista Jorge] Kalil. A garantia dessa postura se chama método científico, que exige que as hipóteses sejam testadas à exaustão. Só depois tornam-se verdades científicas – até que surja outra teoria que explique melhor o fenômeno.
Galileu, Edição 317, Pergunto a um terraplanista, página 39; foto: Cofeci
Rui Iwersen, médico, editor de GaiaNet
Freud explica nº 55
A Guerra nº 19
A guerra com frequência cria um ofuscamento lógico nos melhores cidadãos
A experiência psicanalítica consegue demonstrar todos os dias que, de repente, as pessoas mais astutas se comportam como imbecis assim que o discernimento exigido enfrenta uma resistência emocional, mas também recupera todo o entendimento quando essa resistência é superada.
O ofuscamento lógico que esta guerra com frequência cria, como que por magia, nos nossos melhores cidadãos é, portanto, um fenômeno secundário, uma consequência do impulso emocional, e, tomara, destinado a desaparecer com ela.
Sigmund Freud, Tempos de guerra e de morte, 1915, Editora Nova Fronteira, RJ, 2021, página 33; foto: DW (1ª guerra mundial, em preto e branco e a cores)
Rui Iwersen, médico psiquiatra
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