Saúde mental
Freud explica nº 25
O processo civilizatório
(…) Pois, se aceitarmos que a vida psíquica é na verdade um setor da vida social, com suas dinâmicas de internalização de normas, ideais e de princípios de autoridade, por que não se perguntar como tais processos sociais nos fazem sofrer, como eles podem estar na base das reações que levarão sujeitos a hospitais psiquiátricos e consultórios?
Para muitos, essas questões atualmente parecem imersas em certo romantismo e ingenuidade. Tanto é assim que elas pouco são ouvidas em nossos departamentos de medicina. Mas, principalmente entre os anos 50 e 70 elas tiveram um impressionante impacto no desenvolvimento da psiquiatria.
Movimentos como a antipsiquiatria de David Cooper, Ronald Laing e Thomas Szasz, a análise institucional de François Tosquelles, do grupo de La Borde, de Enrique Pichon-Rivière, as reformas propostas no sistema manicomial italiano por Franco Basaglia: todos eles pareciam indicar a emergência de um processo irreversível de reconsideração do lugar social da loucura, assim como da relação entre normalidade e patologia. Isso implicava modificar radicalmente os modos de tratamento.
O segundo fenômeno ocorrido no campo da clínica até o início dos anos 80 foi a prevalência da psicanálise como horizonte fundamental de referência clínica, inclusive para a psiquiatria. No início dos anos 60, mais da metade dos chefes de departamento de psiquiatria das universidades americanas eram membros de sociedades psicanalíticas.
A noção psicanalítica do sofrimento psíquico como expressão de sistemas de conflitos e de contradições nos processos de socialização e de individuação, conflitos esses que mostravam muitas vezes a natureza contraditória e problemática de nossas próprias instituições e estruturas (como a família, o casamento, o mundo de trabalho, a escola, a igreja), foi um elemento decisivo não apenas para compreender o que era o sofrimento psíquico, mas para mobilizar certo horizonte crítico a respeito dos custos de nosso processo civilizacional, dos problemas imanentes a nossa forma de vida.
Esses dois fenômenos praticamente desapareceram, sem que as questões que eles traziam fossem realmente respondidas. (…)
Vladimir Safatle, O fim da paranoia – O dia em que começamos a sofrer de outra maneira, ÉPOCA, nº 1099, 29.07.19, páginas 68 e 69.
Rui Iwersen
Mensagem quixotesca nº 5
Mensagem ao Presidente da República
EXCELÊNCIA
Com humildade me dirijo novamente a Vossa Excelência com o objetivo único de Vos ajudar a melhor exercer Vosso poder sobre Vosso país e sobre Vosso povo. Com este objetivo dou-vos um novo conselho: Não fortaleça o ódio entre Vossos súditos! não divida o Vosso povo! Una o Vosso povo!
Como tenho visto desde o século XVII, ódio no povo significa ódio entre o povo; divide os súditos e destrói a tão almejada e desejada paz.
Vós, com Vossa vasta cultura de cavalaria, certamente já lestes um pouco de minha história contada por um tal Miguel de Cervantes, um de meus conterrâneos contemporâneos, que conhecia o verdadeiro valor dos cavaleiros andantes. Vossa excelência sabe, portanto, quem Vos fala e com quem Vós falais!
Vossa Excelência não é só presidente da bolha olavista, evangélica, pecuarista ou da bolha da bala. Vossa Excelência é agora Presidente da República Federativa do Brasil. Vossa Excelência é agora presidente de todos os brasileiros, e não somente dos que Vos elegeram ou dos que Vos apoiam.
Em minhas andanças de cavaleiro pelo mundo já vi muitas tribos, reinos e países colapsarem em guerras civis ou em guerras religiosas por sua divisão. Não deixe isso acontecer com Vosso povo!
A paz é possível e desejável. A paz entre seu povo deve ser o objetivo de um grande estadista, principalmente de um presidente que se diz terrivelmente cristão, uma religião que prega o amor ao próximo como a si mesmo. Eu e o Freud achamos isso impossível, mas… Vós, que acreditais que isto é possível, lutai por isto!
Para ter paz em Vosso reino e em Vosso reinado, busque o apoio de todos! Apoie todos! Afinal, todos são Vossos súditos, e Vós sois a autoridade máxima de todos
Ah! E não permitais que outros, em Vosso nome, dividam o Vosso povo! Mesmo contra Vossa natureza, às vezes sejais rude! Não vai ser difícil! Afinal, Vossa Excelência foi treinado para matar! É a velha dialética cultura/natureza!
O Sancho me pediu para dizer a Vossa Excelência que “quem divide para reinar não reina um reino, reina sobre um reino”.
Rui Iwersen, sob licença póstuma imaginária de Miguel de Cervantes Zaavedra.
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