Florestas brasileiras
Uma análise do livro Colapso e de sua relação com o nosso momento
Em 2005, o geógrafo e historiador Jared Diamond escreveu Colapso: como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso. (…) A obra de 2005 é um estudo sobre como as sociedades entram em colapso político e econômico, transformando-se quase repentinamente de grandes civilizações em pequenas aldeias esparsas – às vezes nem isso. Do estado americano de Montana à civilização maia, de Ruanda à China, da Austrália ao Camboja e o esplendor de Angkor, que visitei em duas ocasiões, Diamond tece enredo eloquente e avassalador sobre como o desprezo em relação à natureza pode levar à ruína.
O ponto de partida é a Ilha de Páscoa, caso que o autor afirma ser “o exemplo mais claro de uma sociedade que se autodestruiu ao explorar à exaustão seus recursos naturais”. Ao contrário de outros casos estudados, não houve na Ilha de Páscoa interferência de conflitos ou mudanças climáticas repentinas que pudessem explicar o colapso. Como indagara um dos alunos de Diamond, “o que deveria estar passando pela cabeça do nativo que cortou a última árvore da ilha?”.
O autor tenta dar uma resposta a essa pergunta no fim do livro, quando levanta algumas teses. Talvez muitas civilizações tenham falhado em antever o impacto das consequências futuras de seus atos. Talvez a lentidão com que os impactos negativos se acumularam ao longo de muitos anos tenha permitido sensação de normalidade, de que, apesar de tudo, haveria adaptação política, econômica e institucional às mudanças provenientes das ações adversas sobre o meio ambiente.
Talvez o poder político desproporcional daqueles que não estavam sendo diretamente afetados pelas mudanças tenha servido como respaldo para promover espécie de mau comportamento racionalmente justificado por aqueles que usavam ou tinham o poder de administrar os recursos ambientais. Talvez exista elemento irracional na destruição do meio ambiente, reflexo da busca imediata por gratificação em detrimento de qualquer conhecimento a respeito dos estragos futuros.
Dado o avanço da pesquisa sobre mudanças e destruição ambiental hoje – ao contrário do passado de várias civilizações estudadas por Diamond – os motivos irracionais são mais convincentes do que os potencialmente racionais. (…) Leio que em maio deste ano o desmatamento da Amazônia alcançou o maior nível desde que o atual sistema de monitoramento foi instituído. Leio as preocupações de que o governo Bolsonaro tenha dado passe livre para que atividades ilegais levassem à perda de 739 quilômetros quadrados de floresta durante o último mês. (…)
A natureza haverá de se revoltar ante tamanhos maus-tratos e descaso. O que estará passando pela cabeça daquele que vier a derrubar as últimas árvores da Amazônia?
Mônica de Bolle, Quando a natureza se revolta, ÉPOCA, Nº 1092, 10.06.19, página 38.
Rui Iwersen
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1 Comment to “ Florestas brasileiras”
Daee dotô, blog bombando. Pode crer. valeu meu gaiteiro…